UM MINUTO DE IMORTALIDADE

Era uma sexta feira como todas as outras,nada tinha para fazer, há não ser esperar pelo dia seguinte e deliciar me, provavelmente, em uma das praias da região.Mas naquela noite iria acontecer algo que eu jamais esqueceria. Era noite de lua clara,e fui convidado a participar da solenidade de posse de um novo acadêmico,na academia de Letras de Parnaíba,o sr. Antônio de Pádua.Na ocasião, cheguei a imaginar que seria uma daquelas noites chatas; cheias de discursos e oradores infindáveis.

O cerimonial acontecia no antigo Porto das Barcas, importante centro comercial da antiga cidade da Parnaíba. Cheguei sozinho ao lugar e logo fui recebido pelo amigo e presidente da APL, o Sr. Renato Neves que me orientou para eu procurasse um lugar para sentar. Encaminhei os meus passos pelo grande corredor, e fui observando atentamente a arquitetura e o luxo do antigo armazém,reduto de uma época de ouro e esplendor de um passado de glória.

Ao entrar num grande “salão”, deparei me com o recinto lotado de pessoas elegantes; refinadas; que exalavam no ar, perfumes caros. Busquei com o olhar uma única cadeira vazia e nada encontrei; todas estavam ocupadas,e quando avistavam alguma,sempre alguém me desorientava; dizendo está ocupada,e eu logo me desculpava. De cabeça baixa,encaminhei me para o fim do salão,um córrego, a última estância que só tinha como conforto a parede de pedra em minhas costas. E ali permaneci longe dos IMORTAIS, que com seus discursos ricos e oratórias divinas enchiam nossas almas de encantamento, e como bálsamo aliviava as dores da ilusão de nossas vidas. Quando de repente, as luzes se apagaram, o som parou, nada se via, apenas uma grande confusão de pessoas meio a escuridão. Foi então que resolvi sair; juntos a outros que reclamavam do infortúnio. Lá fora, próximo aos grandes corredores de pedra, observei que velas clareavam todo o recinto, trazendo consigo,a magia e uma certa melancolia saudosa. Olhei para o céu e uma bela lua azul, brilhava intensamente,repetindo sua imagem nas águas do Parnaíba. Naquele momento fui tomado por uma sensação indescritível, junto a nuvens apressadas, e estrelas cintilantes; que enfeitavam o altar celestial noturno. Aquele momento era muito especial, pois estava tomado de uma sensação de ter viajado ao passado,no tempo áureo da Parnaíba antiga à luz de velas. O cais cheio de casais, de mãos dadas, a namorar. Os senhores mais idosos da alta sociedade, em círculos, onde discutiam política,enquanto as suas senhoras,sentadas em rodas, divertiam se com suas fofocas. Enquanto no recinto principal do cerimonial, a magia se fazia presente,meio a luz de velas,era a voz natural dos oradores que fluía em tom ativo para que todos ouvissem.

O Porto da Barcas renascia num minuto imortal,e resplandecia iluminado o seu templo,apogeu do romantismo,e como alma imortalizada,respirei fundo e chorei de emoção. Era um momento único e inesquecível. Caminhei meio as ruelas da velha cidade e me deparei com mais pura sensação de estar no passado glorioso. Mas a magia logo seria quebrada! A energia elétrica é restabelecida e clareia fortemente o Porto. Assim, lembro do cerimonial e volto para aquele recinto,pensando em encontrar as cadeiras lotadas ,e logo voltaria para o córrego, no fim do salão,mas para minha surpresa,havia inúmeras cadeiras vazias e delas,uma sentei. Terminado o cerimonial, fui um dos primeiros a parabenizar o novo acadêmico, assim como os demais.Logo senti uma agradável sensação pois de um desprezado convidado do fundo do salão,agora estava eu no meio de todos, a conversar normalmente,trocar idéias,sorrir e a abraçá-los ternamente, até arrisquei a trocar brincadeiras. Foi nesse momento que pude observar que os imortais desceram do Olímpio Acadêmico e se juntaram a nós; pobres mortais! Nenhuma novidade para quem já tinha experimentado tantas emoções de voltar ao passado ou está ao lado dos imortais naquele momento divino. Teria tido eu uma experiência de imortalidade intelectual,por apenas alguns instantes,no dia em que o Porto das Barcas,num piscar de luzes,renascera das cinzas, meio a escuridão, e presenteava a todos com um singelo retorno ao passado. Naquela noite em que a lua azul era testemunha e a luz das velas completavam a magia do meu sonho. Teria eu me tornado um imortal apenas por alguns minutos enquanto vagava pelos corredores da história, pois eu seria consolidado nas palavras proferidas pelo poeta, que “Uma vez um imortal,para sempre um imortal. Assim sendo,SOU IMORTAL!

João Passos