Clima seco com chuva

A chuva caía torrencialmente, relâmpagos cortavam o céu brilhando e trovões o faziam estremecer. Era daquelas chuvas em que o melhor era ficar escondido dentro de casa.

Mas, ao invés disso, estavam parados dentro do carro. Era impossível dirigir naquele temporal, não dava para enxergar absolutamente nada.

– Por que você é tão babaca? Já falei que se não quiser mais é só ir embora – ela disse.

– Eu não posso fazer isso.

– Por que não?

– Porque não – ele deu de ombros.

– Se você falasse, ficaria muito mais fácil de eu entender. Até agora parece que eu não sou mais o suficiente e que você não me ama mais, mas tem medo de assumir.

– Não é tão fácil assim.

– Claro que é fácil. Se não está te fazendo feliz, é só ir embora e ser feliz em outro lugar.

Ele não sabia o que responder e os dois ficaram em silêncio. A chuva só aumentava e eles seriam obrigados a ficar longos minutos em uma situação desconfortável. Talvez até ficassem horas.

Ela suspirou frustrada e, abrindo a porta, disse:

– Não aguento mais isso. Eu estou indo embora.

– Agora? – ele perguntou, mas ela já estava fechando a porta.

Ele saiu do carro e foi atrás dela.

– Você está louca? Tudo tem que ser um drama com você? Aonde você pensa que vai nessa chuva?

Ela continuou andando sem olhar para trás. Ele correu atrás dela, segurou-a pelo braço e a beijou. Ela retribuiu ao beijo já sabendo que seria o último. Os dois se beijaram com vontade, ignorando a chuva que os molhava cada vez mais.

– Entra no carro. Vamos conversar – ele pediu.

– Não tem mais o que conversar. Você sabe que acabou. Nós dois acabamos.

– Eu sei – ele disse triste. – Mas entra no carro. Você não vai andando nessa chuva.

Ela assentiu e o seguiu.

Abriu os olhos e percebeu que estava em sua casa, deitada na cama, sonhando com algo que queria poder esquecer, mas que não podia.

Era irônico pensar em como aquele fim foi chuvoso, mas em como trouxe um deserto em seu peito.

Lágrimas caiam de seus olhos rolando até o queixo e o pescoço como se fossem gotas de chuva. Ela chorava todas as noites regando suas tristezas, chovendo todos os dias no deserto que se formara dentro dela.

Desde aquele fim, a única chuva que caíra fora de seus olhos. Mas, então, como num passe de mágica, ela ouviu gotas batendo na janela de seu quarto e as lágrimas param de cair. Era como se suas lágrimas tivessem se transformado na chuva que caía lá fora. Uma chuva que não tinha mais nada a ver com ela.

Flávia Tomaz
Enviado por Flávia Tomaz em 08/10/2015
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