A PENSIONISTA

A feira de Oitis abrigava todo tipo de gente. Ali tinha o feirante Otelo que fazia o marketing das suas frutas com ópera. O seu vizinho Orpheu era um exímio poeta. Ele criava versos com os seus tomates e cebolas. A dona Bela era uma artesã na criação de pastéis. Mas naquela feira tinha também muita gente desonesta. O cabeceiro Maciel agradava aos seus clientes com pedaços de melancias geladas. Todos gostavam dos seus serviços, principalmente as velhinhas da Baixa do Agave. O cabeceiro falava macio e de forma cordial, mas tinha alguns hábitos estranhos. Quando organizava os mantimentos das clientes em seu balaio, sempre deslizava uma mão dentro da sacola da desavisada senhora. Ele afanava uma maçã aqui, uma banana ali. No final do dia o seu balaio transformava-se em uma verdadeira quitanda. Algumas freguesas desconfiavam dos sumiços de algumas frutas. Porém elas não reclamavam aqueles desaparecimentos. Maciel prosseguia com os seus hábitos frequentes. Ele gabava-se da sua esperteza, e ás vezes dava "aulas" de suas artimanhas aos seus colegas. Uma certa manhã naquela comunidade chegou uma senhora chamada Karla. Ela dizia-se pensionista de um herói de guerra. Maciel enxergou naquela mulher uma nova vítima, e prontificou-se a ajudá-lá no transporte de suas compras. Embora desconfiada, a pensionista contratou os serviços braçais do simpático cabeceiro. No domingo, Maciel afanou alguns legumes da nova vítima. Em seu "posto" ele gabou-se diante de seus colegas as suas aventuras. Maciel afirmou que não teve trabalho para declinar a sua mão na indefesa sacola de compras da pensionista. O cabeceiro falou durante uma hora sobre as outras vítimas naquela ensolarada manhã de janeiro. No final do dia contabilizou um aumento de produtos em seu balaio. Mas o esperto Maciel percebeu que o Dinheiro arrecadado tinha diminuído em relação ao domingo passado. Ele contou as notas e moedas uma vez, uma vez e uma terceira vez. Mas não encontrou nenhuma explicação sobre o sumiço do dinheiro. No outro dia, o cabeceiro descobriu que a madura senhora foi embora da cidade. Os motivos para tal atitude foram os inúmeros furtos feitos pela suposta pensionista no hotel da cidade. Ela era uma estelionataria itinerante e enganou todo mundo, inclusive o esperto e gaiato Maciel. O mundo é dos mais espertos que os mais espertos.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 17/10/2015
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