A REALIDADE
Mais um pouco e a vida amanheceria sendo a mesma coisa de
ontem.Ezequiel sabia disso e tentava pensar em Deus. Talvez Ana ti-
vesse razão quando dizia que Deus não existia. Talvez Deus fosse u-
ma invenção. Não tinha certeza de nada. Isso o inquietava. Uma vez
ficou escutando um pregador que anunciava com palavras terríveis o
o fim do mundo. Mas as pessoas passavam sem escutar o pregador.
Estavam preocupadas apenas em sobreviver. Pedindo. Vendendo por-
carias. Andando apressadas. Ezequiel achava aquilo tudo estranho e
não entendia a satisfação do pregador em falar da guerra, da fome,
da estupidez humana. A palavra se cumpria e isso para o pregador e-
ra a melhor coisa do mundo. Para Ezequiel era uma dúvida a mais pai-
rando sobre sua cabeça. Ele que era aúnica pessoa na praça que da-
va ouvidos à palavra do pregador.
A manhão o encontrou perdido. Mais uma vez a vida aparecia
com seus conselhos, com suas promessas. A cabeça estava cheia
de dúvidas. Era outro dia despencando na vida sem solucionar a mo-
notomia, as coisas repetidas nos instantes estabelecidos pelo desti-
no. O gesto de levar a xícara aos lábios e sentir o gosto do café de
ontem na boca.
Da janela viu a paisagem da rua e inventou outra manhã, ou-
tro dia. Ele pensa e estranha a rua, a cidade, os habitantes da cida-
de
que não se deram as mãos
que se sentaram à mesa sem convidar quem passava pela
rua (o tempo todo com os dentes presos ao pão evitando os olhares
da rua.)