A REALIDADE

Mais um pouco e a vida amanheceria sendo a mesma coisa de

ontem.Ezequiel sabia disso e tentava pensar em Deus. Talvez Ana ti-

vesse razão quando dizia que Deus não existia. Talvez Deus fosse u-

ma invenção. Não tinha certeza de nada. Isso o inquietava. Uma vez

ficou escutando um pregador que anunciava com palavras terríveis o

o fim do mundo. Mas as pessoas passavam sem escutar o pregador.

Estavam preocupadas apenas em sobreviver. Pedindo. Vendendo por-

carias. Andando apressadas. Ezequiel achava aquilo tudo estranho e

não entendia a satisfação do pregador em falar da guerra, da fome,

da estupidez humana. A palavra se cumpria e isso para o pregador e-

ra a melhor coisa do mundo. Para Ezequiel era uma dúvida a mais pai-

rando sobre sua cabeça. Ele que era aúnica pessoa na praça que da-

va ouvidos à palavra do pregador.

A manhão o encontrou perdido. Mais uma vez a vida aparecia

com seus conselhos, com suas promessas. A cabeça estava cheia

de dúvidas. Era outro dia despencando na vida sem solucionar a mo-

notomia, as coisas repetidas nos instantes estabelecidos pelo desti-

no. O gesto de levar a xícara aos lábios e sentir o gosto do café de

ontem na boca.

Da janela viu a paisagem da rua e inventou outra manhã, ou-

tro dia. Ele pensa e estranha a rua, a cidade, os habitantes da cida-

de

que não se deram as mãos

que se sentaram à mesa sem convidar quem passava pela

rua (o tempo todo com os dentes presos ao pão evitando os olhares

da rua.)

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 26/06/2007
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