O TRAUMA DO ORIGAMI CHINÊS

Era o dia do meu aniversário.

Logo pela manhã, ao chegar no expediente de trabalho, fui recepcionada alegremente por uma querida amiga, que me presenteou com um pacotinho.

Sabedora de que aprecio arte em todas as suas formas, resolvera me ofertar um presente diferente, que considero um dos mais mimosos e inusitados que ganhei até hoje.

E olha que já fiz muitos aniversários!

-Este, aposto que você não tem! Veio de longe, espero que goste...

Resolvi abrir o presente ali mesmo, em meio às pessoas curiosas que lá estavam, até por uma questão de educação, e também para agradecê-la.

Ao desembrulhá-lo, fiquei realmente encantada!

Tratava-se de um origami, arte em dobraduras de papel, onde um pequeníssimo chinesinho fora confeccionado em proporções muito miúdas, quase que imperceptíveis a olhos nus, em partes coloridas de tons pastéis, com todos os detalhes de vestuário, manto, chapéu, guarda-chuva, fisionomia; uma escultura realmente de encantar, dentro de um invólucro protetor de vidro.

Agradeci muito pelo bom gosto do carinho que havia recebido, posto que o presente parecia personalizado, escolhido a dedo...

Logo depois, alguém me pediu para vê-lo. Consenti orgulhosamente...

-Não é uma graça?- perguntei a quem o segurava.

-Nossa, que coincidência! Ontem, limpando o meu armário, retirei um origami parecido com este, para jogá-lo fora! Acho que enjoei do chinesinho...

Eu mal pude acreditar no que ouvia. As pessoas entreolharam-se boquiabertas.

Olhei discretamente para o meu entorno e dei Graças a Deus que minha amiga já não estava mais lá.

Segurei o chinesinho com as mãos; e vi quando ele tampou seus ouvidos e mostrou-lhe sua língua, e eu, já tentando acalmá-lo...disparei um sorriso amarelo, com o olhar desviado ao léu.

-Mas acho que vou mudar de decisão... -disse-me a depreciadora de origami, tarde demais para remendar sua gafe!

Fui para casa pensando no ocorrido. Fiquei muito preocupada, pois o mais incrível, é que a tal destruidora de chinesinhos de origami, é terapeuta há anos!

Quantos chinesinhos já destruiu na vida?- me perguntei.

E quantos ainda por destruir?

Nada contra os terapeutas, longe disso, mas eu que nada entendo de terapias, será que se trata da tal...TERAPIA DE CHOQUE?

Depois cheguei a uma perigosa dúvida: seria eu uma “PROJEÇÃO” daquele origami chinês?

Nem Freud explicaria...