Autoestima.

-...

- Sandra, minha amiga, eu ando tão chateada com o Gustavo...

- O que foi, Bianca, que esse seu marido aprontou dessa vez, Ele bateu em você?

- Não, ele não fez isso, não.

- Ele destratou você de novo na frente dos clientes?

- Também não.

- Então diz, Bianca, o que a está deixando assim tão mal humorada. Se você deseja que eu adivinhe, eu não vou tentar, desisto.

- Eu o peguei transando com a Valéria dentro do banheiro.

- A Valéria! Funcionária da loja?!

- Ela mesma.

- Que ordinária! E aí? Já sei, você meteu o cabo da vassoura nos dois.

- Não! Você me conhece, sabe que não consigo agredir ninguém.

- Bianca, eu não acredito, você não fez nada? Não gritou, não xingou... nada?

- Não.

- Que tivesse pelo menos expulsado a Valéria da loja, já seria alguma coisa. Essa safada enrustida. Tá vendo como é que as pessoas enganam a gente, ela sempre tão comportadinha, e foi se enroscar logo com o seu marido. Que dissimulada, essa vagabunda! Eu nunca fui com a cara dela, essa sujeitinha.

- Eu percebi a loja vazia quando terminei de arrumar o caixa, e notei que os dois haviam sumido; até aí, nada de anormal, só que algo me despertou da indiferença e eu saí a procura-los, olhei em todos os cantos, faltou o banheiro. Quando me aproximei da porta, ouvi um estertor abafado e bem familiar vindo lá de dentro e logo entendi que os dois estavam juntos. Empurrei a porta entreaberta e eles, atracados um ao outro, ficaram expostos numa cena infame. Por alguns segundos fiquei impassível diante do flagrante, depois, recuperada do susto, meti a mão na maçaneta e puxei com violência. Abandonei tudo e fui chorar minhas mágoas na cama, sozinha, com a cabeça apoiada no travesseiro.

- Eu já falei pra você que esse homem não presta! Não é a primeira vez que ele coloca um chifre na sua testa. Eu não sei como é que você aguenta conviver assim! Larga ele, Bianca, e vai viver a sua vida, mulher! A vida da gente é uma só, porém com duas opções: ser feliz ou infeliz. Qual você prefere?

- Eu não posso deixar meu marido, o que vai ser de mim sem ele?

- Minha amiga, esse homem não gosta de ti, ele já provou isso várias vezes. Só você, ao que parece, faz questão de não enxergar o óbvio.

- Se ele não gosta de mim, Sandra, como você mesma diz, por que não me abandona e vai morar com outra? O que o impede?

- Bianca, você não tem amor próprio mesmo, definitivamente. Vai se tratar, criatura. Procura um psicólogo, um analista, um médico... sei lá, e vai se cuidar. Um homem que vive a maltrata-la, não pode gostar de você, pelo amor de Deus!

- Quando eu aceitei me casar, a gente vivia bem. Durante todo o período que namoramos, ele jamais aprontou comigo. Eu continuo achando que ele é um homem bom, mas tem lá suas fraquezas, como todo mundo. Como consertar isso?

- Fraquezas como todo mundo uma ova! Gustavo agride você, insulta, desonra... e você não enxerga. Como pode isso? Se tiver alguém a si consertar, esse alguém é você. Estou tentando ajudá-la, minha amiga, no entanto sei que não sou a pessoa qualificada para isso. O seu problema é baixa autoestima, ou nenhuma! Como eu já disse, procura um especialista que a ajude a elevar o seu amor-próprio, a sua dignidade.

- A autoestima que você diz, é pra eu me tornar agressiva, é isso? Eu não quero ser brigona. Acho a violência algo muito feio. Eu não quero isso pra mim, mas não quero mesmo!

- Bianca, eu desisto. Eu vou continuar falando e daqui a pouco você vai achar que eu estou interessada no seu marido. Chega. Vamos mudar de assunto. Você aceita um café?

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Leia também '...de gato e sapato'. Um texto completa o outro.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5447069

Dilucas
Enviado por Dilucas em 14/11/2015
Reeditado em 20/02/2024
Código do texto: T5448830
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