De nada
Um dia te chamo para vir aqui em casa. Arrumarei tudo! Dos livros sobre a mesa de centro às calcinha penduradas no varal. As roupas também. Guardarei perfumes e cremes da bancada do banheiro. Deixarei só o pequeno vaso de flor perfumada. Limparei o chão da casa inteira com capricho. Os vidros voltarão à transparência esquecida. Tirarei o pó até dos menores objetos. São tantos...Por fim, ligarei o difusor elétrico com essência suave de vanila.
Tudo perfeito, em seu devido lugar. Menos eu.
De banho tomado, pego meu livro de cabeceira e espero o interfone anunciar a sua chegada.
Pronto! Não obrigada. Era o homem do gás.
O telefone toca.
Alô! Não sou esta pessoa. Engano.
Fim do primeiro capítulo. E nada de interfone. Nada de notícias. Nada de convite.
É que faltou coragem. Sim, ultimamente, sobre esta palavra, tenho pouco a expor. Um dia ela pousará de volta aqui. Reinará vibrante e cheia de fé. Mas agora, enquanto dura esta hora...agora não! Quero o amparo da ilusão com toda sua acidez. Quero creditar na presença de um 'tchau' triste, tenso e sem vontade.
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Sim, vida confusa, não se faça de surda. Tô de saco cheio de sua falta de criatividade. Arrume um jeito de me devolver a confiança que perdi quando você me trouxe a realidade nua e crua bem na hora em que a ilusão era o máximo. Afinal, naquele instante eu dei como certo um fato que nunca aconteceu. Me enganei no auge na crença. Mas ri como nunca. Fui ao inferno e voltei só pra te mostrar que posso ser tão vigarista quanto você, amada vida. Guardarei o dia de hoje na memória, num compartimento que me permita lembrar com 'zoom' sempre que me faltar coragem de ser eu. Inclusive para convidar quem quer que seja para um café na minha casa sem me importar com a desordem, mas com com o essencial que eu puder.
Voltando ao convite.
Sim, um dia te chamo para vir na minha casa, desajeitada
Esteja ela como estiver. Abrirei a porta com a alma em festa e com a necessidade de ter uma boca maior para amparar o sorriso sem me importar com mais nada.