Herbofilia

Batendo os papéis, nem naquele pique, Nuno saía da sala. Passou nos corredores de máscara, como de costume, já dando uns tapas no bolso pra ver se a chave aparece. Mas hoje o estacionamento guardava uns veículos diferentes que fizeram o professor forçar mais a expressão. A PM estava ali.

O protagonista da tarde era um moleque do terceiro. Nuno mal reconheceu o formato do rosto; estava chorando e carniço, tipo um pandeiro desafinado. Demorou pra identificar o porquê da pecinha, quando viu a vítima - um baseado de maconha - caído no chão ainda com a fumaça saindo - se de êxtase ou vergonha, os teóricos até hoje discutem.

O cenário o recordou a juventude (não podendo ser grafado de outra forma o trecho), quando pegava metrô e, sob mandato do júri, era obrigado a olhar para baixo, admirando os soizinhos que aumentavam ainda mais a vergonha. Imagine se, rendido à juventude, também ele os provasse, se não estaria hoje tão pandeirado quanto o garoto.

Não aguentando a zoeira, um dos também envolvidos no representeto saiu correndo, gritando tipo um cracudo. Um dos policiais foi atrás, só pra perdermos dois personagens. Já aqui o menino caiu no choro também, gritando os "sou estudante, sou estudante" já manjados.

O coro se manifestou. O que eles diziam, ninguém sabe direito, mas Nuno só ouvia uma coisa: "Herbofilia é crime", seguido dos ecos surdos de "Herbolatria" do irmão que saía carregado. Nuno não havia reparado, até o momento, na máscara dele caída no chão. Perdido no medo, apalpou a própria, com medo de igual destino, e saiu correndo pro carro, mas não sem antes pegar a diamba caída no chão.