Uma Tragédia Grega à Brasileira

Com um bloco de notas na mão e uma ideia louca na cabeça, a "critica literária" justineide Ferrada sai às ruas de Salvador em busca de pessoas e situações que possam alimentar uma mania, adquirida desde que foi acometida de uma grave doença que a impele a "criticar", de maneira sórdida, e em alguns casos até agressiva, escritos e trabalhos literarios.

Diagnosticada com a sindrome da esquisofrenialiterária congenita (doença que atinge apenas 0,1% da população mundial), Justineide vive a infernizar a vida de poetas e afins. Recentemente, passeando com o seu marido (o arquelogo Bartolomeu Pitombo), em uma rua estreita no centro da cidade, depara-se com uma poetisa renomada que atravessava a rua em direção a uma biblioteca. Ferrada não perdeu tempo e disparou: "Esses escritores tudo que vêem têm mania de fazer poesia, até um buraco..." disse Justineide referindo-se à reação da poetisa ao enfiar seu salto italiano num buraco no meio da calçada.

Recém chegada da Grécia, a poetisa participaria de uma conferencia sobre literatura em um resort próximo mas, assustada com os comentários ultrajantes do casal, decidiu seguir para o hotel e refletir sobre a possibilidade de voltar para a Europa. Porem, em conversas com seu agente, decidiu ficar.

Transtornada, triste, com o semblante decaido e uma expressão ruborizada, Chalene Passada (a poetisa de renome), precisava se recuperar daquele que foi o maior susto da sua vida, e, neste sentido, resolveu sair para conhecer a cidade e tentar se recompor do trauma sofrido. Porem, na saída do hotel é abordada por um rasta por nome Clif Marley, que se identifica como guia turístico e oferece seus serviços para um tour na cidade. Ainda transtornada, Chalene se deixa conduzir pelo "guia" que a leva em direção ao Elevador Lacerda e lhe oferece um picolé da sorveteria "A Cubana" - o que remete nossa escritora a um tempo em que fora comunista e desfrutava das benesses da ilha de Fidel.

Tudo parecia perfeito: a vista deslumbrante da Baia de Todos os Santos, com um mar a perder de vista no horizonte; a beleza da cidade baixa vista do alto, com seus casarões antigos contrastando com a moderna arquitetura de alguns prédios novos; a imponência arquitetônica do Mercado Modelo; e o monumento dedicado a um politico baiano (ACM vô). Todo esse cenário, inspirador e ao mesmo tempo reconfortante, deixava Chalene feliz; o vento que soprava em seu rosto esvoaçava seus cabelos e dava-lhe uma sensação de frescor; o calor do verão de Salvador queimava sua pele proporcionando-lhe um bronzeado diferente gerando-lhe um bem-estar fisico e mental.

No entanto, apesar de todo esse frescor, toda energia irradiada do verão baiano, existia algo de estranho no ar, sensação de perigo à vista. Sentimentos confusos passaram a povoar a mente de Chalene. O que teria acontecido? O que estaria por detrás destes presságios?

E a resposta surge em forma de um sonoro "TE ACHEI!!" no abrir de uma das cabines do elevador: era Justineide Ferrada que, direcionando-se para Chalene, dedo em riste, bradava a plenos pulmões. Seu grito ecoou nos quatro cantos e provocou pânico no Elevador Lacerda. Houve um grande corre-corre e Chalene, apavorada com toda aquela confusão, não percebeu que Clif Marley a segurava pelo braço conduzindo-a para fora daquele recinto em direção ao Pelourinho.

O largo do Pelourinho estava extremamente movimentado, pois ali se comemorava a "terça-feira da benção" - evento que acontece todas às segundas terças-feira do mês onde se reúne centenas de pessoas, em sua maioria afrodescendentes, com atitudes afirmativas.

Aproveitando-se do fascínio de Chalene pela mistura de cores e ritmos do lugar, Clif apresenta-lhe alguns amigos e, juntos, seguem para o "Bar do Reggae - reduto de rastafaris e simpatizantes -, e ingerem algumas doses de cravinho (famosa bebida do lugar), ao som de "No woman no cry" , antigo sucesso de Bob Marley.

Enquanto isso, na Ladeira da Montanha, Justineide e mais duas "garotas", moradoras do local, arquitetam um plano audacioso para capturar Chalene. Samanta e Nicole, as garotas da montanha (na verdade, dois travestis que fazem ponto na rua Carlos Gomes) formam a "tropa de choque" que empreenderá caça á poetisa.

Alheia ao perigo que estaria por vir, Chalene seguia se divertindo regada a muitas doses de cravinho. Já um pouco "alta" - devido à grande quantidade de bebida ingerida - , um som lhe chama a atenção: era o replicar das batidas do Olodum, com seus tambores possantes e uma batida inigualável, capaz de fazer "sair do chão" o mais tímido dos foliões. O Bloco Afro Olodum é admirado por foliões do mundo inteiro e Chalene já participara de um show da banda na Grécia.

Com um som contagiante, o Olodum consegue atrair a todos numa espécie de confraternização universal: Chalene, Justineide, Bartolomeu, Clif Marley, Samanta e Nicole, todos unidos num só ritmo, numa só batida. Uma sinergia que une corações e sela a paz entre dois povos. A energia da musica baiana contagia as mentes num balançar de corpos e fluir de emoções. Um evento único.

Uma festa que consegue agradar a gregos e baianos.

Niltonil
Enviado por Niltonil em 09/12/2015
Reeditado em 17/10/2018
Código do texto: T5475147
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