Sai galada

1.

_ eu quero comer você – sussurrou no meu ouvido.

_ não dá, tô naqueles dias.

_ existe sempre outras maneiras de solucionar os problemas da vida – disse-me com o sorriso cafajeste mais bonito que já conheci.

2.

sabe quando você encontra o cara ideal e acha que nada no mundo pode acabar com o seu sonho? pois é, descobri há pouco tempo que se tem uma coisa que pode acontecer, é você acordar e perceber que o amor fodeu contigo. e, olhe, que não tô dizendo no bom sentido da palavra. pra falar a verdade, sempre achei uma baboseira esse lance de amar. desde cedo aprendi que a vida lhe oferece oportunidades que merecem ser vividas. a gente deve sair por ai e conhecer gente. beber. foder. e tudo que tiver direito. meu primeiro porre foi aos treze. minha primeira transa aos quinze. meu primeiro amor (sic)? bem, eu tava de boas até os vinte e três, mas de uma hora pra outra ele apareceu e me destruiu completamente. a brenda, minha melhor amiga, riu da minha cara quando assumi que tava apaixonada pelo júlio. segundo ela, meu coração de pedra foi amolecido fácil demais. contudo, o importante dessa história não é saber quem diabos é júlio ou como o peguei os nudes da patrícia no celular dele. na verdade, vocês só precisam saber mesmo o que aconteceu, pouco dias antes da virada do ano, comigo e com a brenda. ah! e, é claro, com lucas.

3.

_ como assim vocês nunca brindaram com um “sai, galada”? – disse o boyzinho da capital, espantado.

_ nunca nem ouvi falar disso. – retrucou brenda.

_ música de seu zé, pô.

_ seu zé?

_ uma banda lá de natal.

_ sei nem pra onde vai.

_ vamos, é fácil. só repetir o que vou dizer.

_ okay.

_ certo.

_ vejo no fundo do copo.

_ vejo no fundo do copo. – repetimos juntas, em coro.

_ o rosto da minha ressaca.

_ o rosto da minha ressaca.

_ deixo cheio pra não matá-la de sede.

_ deixo cheio pra não matá-la de sede.

_ bebo pra não matá-la afogada.

_ bebo pra não matá-la afogada.

_ sai galada, sai galada!

_ sai galado, sai galado. no nosso caso.

todos caímos na gargalhada e demos um gole no chope pouco gelado. lucas era amigo de brenda, tava de férias e resolveu passar uns dias na cidade. sempre que se viam, davam uns amassos e tal, mas nunca rolou nada sério. ele era aquele famoso amigo que te escuta e te come as vezes. quer coisa melhor? então, ele chegou hoje cedo e eu só o conhecia por foto. parecia mais magro na internet, nada que aquele olhar de menino-nada-inocente não me chamasse atenção. trocamos meia dúzia palavras e ele perguntou se não tinha algum canto bom pra beber e comer algo. viemos para um barzinho perto da praia, aqui na cidade de touros.

_ pois é, e foi assim que aquela galada fodeu com a minha vida. – disse, um pouco alterado e levantando o copo.

_ somos três fodidos.

_ e como. três pessoas tão legais como nós não deveriam se lascar tanto, sabiam? – falei.

_ a gente tem o que a gente acha que merece. eu, só me envolvo com mulher complicada, por que será? simples, sou um poço de complicação.

_ não acho que sej--

_ preciso ir ao banheiro. – interrompeu brenda. e se levantou.

_ continuando--

antes que eu pudesse concluir o pensamento ele me beijou.

_ achei que a noite ia acabar e você não ia fazer isso.

_ e se, a gente terminasse essa torre de chope, pedisse mais umas três skol beats e fóssemos todos para a pousada em que estou pra “conversar besteira”? – ele fez o sinal das aspas com os dedos.

4.

mal entramos no quarto e ele me agarrou por trás. golpe baixo aquele cheiro na nuca. começamos nos beijando em cima da cama, enquanto a brenda abriu uma das cervejas e ligou a televisão. ele me colocou por cima e tirou a camisa. não pestanejei, comecei a tirar a minha roupa também. a brenda nos olhou e sorriu.

_ que história é essa, ai?

_ só ta faltando você. – puxou a mão dela, que começou a se despir também. a cerveja se perdeu em baixo da cama.

eu sempre fui da bagaceira mas nunca tinha participado de um ménage. o boyzinho parecia saber o que estava fazendo, mas não deixamos barato. enquanto eu tirava sua calça e concentrava-me em seu pau – que, cá entre nós, que negócio grosso da porra – brenda sentava-se em sua cabeça para que ele pudesse chupá-la. revezávamos entre a parte de cima de seu tronco e a de baixo. e as coisas fluíam espontaneamente, como se através da leitura do corpo entendêssemos o que o outro queria. ele meio que pediu para que nos beijássemos - típico de homens - mas nenhuma das duas curte mulher. não insistiu. eu e ele nos beijávamos enquanto brenda rebolava e gemia alto. chegando mais perto, o boyzinho sussurrou.

_ falta só eu comer você. tira esse short, vai.

_ se eu não tirei até agora, meu bem, é por que alguma coisa tá errada.

_ eu quero comer você – sussurrou em meu ouvido.

_ não dá, estou naqueles dias.

_ existe sempre outras maneiras de solucionar os problemas da vida – disse-me com o sorriso cafajeste mais bonito que já conheci.

5.

demorei dois segundos para entender o que ele realmente estava me propondo. confesso, não curto anal mas estava bastante tentada em dar a minha bunda pra ele. foi ai lembrei da grossura daquele pau. desisti.

_ não vai ser hoje, colega, não vai ser hoje.

sorriu. continuou a beijar e a lamber meu corpo quase inteiramente. s'eu ainda estivesse com o filho da puta do júlio jamais teria participado de um coisa maravilhosa como essa. dizem por ai que deus escreve certo por linhas tortas. eu mesmo nunca acreditei em deus. ou no amor eterno (não antes, não mais). mas aquele dia esqueci completamente meu coração partido e me concentrei apenas em viver inteiramente das minhas vontades. dos meus vícios. e dos meus prazeres.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 04/01/2016
Reeditado em 04/01/2016
Código do texto: T5499634
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