(Imagem Google)
 

Cruzando a Avenida São João 
http://www.youtube.com/watch?v=10Gjsle0OHA


 
 
   Tarde tranquila, o sol a pique, poucas pessoas na rua, somente o som apressado de sapatos na calçada, provavelmente de alguma mulher, pelo toc toc do salto, som este que ecoava dentro da pequena casa de porta e janelas à beira da rua, da antiga Avenida São João, daquela pequena cidade do interior.
  Agora, nada mais parecia tranquilo. O barulho que vinha da calçada já era ensurdecedor, pessoas correndo, vozes alteradas, mulheres chorando e falando coisas que não se entendia.
  Cida estava nos afazeres da casa e cuidando da pequena Ana, quando a porta se abriu e Roberto entrou com um semblante triste e muito assustado. Antes que a esposa lhe perguntasse o motivo ele se adiantou dizendo ter assistido a um acidente na rua próxima à casa. Era uma adolescente, de seus quinze anos, que havia sido atropelada por um ônibus. A menina, andava de bicicleta  e, na queda, bateu a cabeça na guia.
  A rua toda estava lá, em volta da menina acidentada, esperando o resgate, e o burburinho era grande. Dava, ainda, para ouvir os queixumes.
  Cida não sabia de quem se tratava, mesmo Roberto tendo-a descrito fisicamente, mas, uma vontade incontrolável de vê-la, tomou conta dela, de uma forma que ela não entendia. Ela realmente não entendia, mas, queria por toda força ir até o local e ver a menina. 
   Não era apenas uma simples curiosidade, era algo inexplicável, uma dor tão grande em seu coração, uma angústia e ao mesmo tempo um medo estranho, enigmático.
 Embora Cida  sentisse necessidade de  ver a menina, a sensação de medo que tomou conta dela se transformou em pânico, mas, uma força estranha a impulsionava e ela decidiu que iria até lá. Roberto ficou em casa com Ana e Cida saiu decidida a resolver a questão que a incomodava, mas, chegando na esquina o medo paralisou-a e ela voltou para casa correndo e aos prantos. O sentimento dela era de dó, de lamento e de tristeza profunda. A partir daquele momento, o comportamento dela mudou completamente.
  Roberto achou tudo aquilo muito estranho porque Cida, naquele dia, parecia ser sua sombra, onde ele estava lá estava ela, grudada nele, como que suplicando a sua companhia para que não se sentisse sozinha. Chegando a hora de dar banho na pequena Ana, ela preparou a água, colocou a banheirinha em cima da cama e começou a banhar a menina, sempre de olho na porta, onde Roberto, a pedido de Cida, ficava a observá-la. Num momento de distração, Roberto saiu do seu posto, considerando aquilo desnecessário, e, surpreso, notou que Cida já estava do seu lado. Ai então, percebeu que o caso era sério porque Cida havia deixado a pequena Ana na banheirinha, sozinha, coisa que ela jamais faria em seu estado normal.
  Voltou com ela para o quarto, fazendo com que ela se acalmasse para terminar o banho da criança e prometeu à Cida levá-la até a menina, assim que soubesse de alguma novidade a respeito do atual quadro da acidentada.
  Mesmo assim, Cida não se tranquilizou e passou a noite praticamente em claro, com aquela sensação de angústia inexplicável. 
  O dia amanheceu e, pela vizinha, o casal ficou sabendo que a menina acidentada tido ido a óbito, devido a um traumatismo craniano, o que fez com que Cida não mais adiasse a sua missão, sim, para ela o fato de ir ver a menina era uma questão de responsabilidade e dever a ser cumprido.
 Assim, Cida e Roberto foram ao velório da adolescente.
 Cida aproximou-se do caixão todo branco e, rodeado por flores silvestres, estava o corpo da menina, com ataduras na cabeça, devido ao profundo ferimento, mas com um semblante tranquilo, um rosto lindo, jovial, inocente, que fez com que lágrimas lhe rolassem pelo rosto. Num ímpeto, Cida colocou suas mãos sobre a mãozinha fria da garota, que segurava um terço de contas de cor rosa, fechou os olhos e orou, orou pela sua alma, para que sua passagem fosse feita de forma tranquila e resignada. Orou para que espíritos de luz a recebessem e a conduzissem para outro plano,  rogando pela misericórdia de Deus, que é nosso Pai. Orou para que sua alma partisse com esperança confiante, apesar do sofrimento, pela separação, dos entes queridos.
  Assim, Cida voltou para casa, mais tranquila, com a alma em paz e, inexplicavelmente, não sentia mais medo. Era como se tivessem lhe tirado um peso das costas, misturado com o prazer do dever cumprido.
  A vida voltou à sua rotina normal. Ficou sabendo, depois, que a menina havia saído de casa, de bicicleta, para ir se encontrar com uma amiga, quando foi atropelada por um  ônibus desgovernado, na esquina da Avenida São João.  
   A princípio Cida se revoltou, ainda mais pelo fato do depoimento do motorista que, na tentativa de se defender, disse que a menina tentava atravessar a rua quando ele se chocou contra ela, mas, por falta de provas, ou testemunhas oculares, o caso foi arquivado.
   E assim, termina essa história, que poderia ter sérias consequências para a nossa personagem, se ela não tivesse vencido o medo com o poder da oração.

“ Como não sabemos exatamente o que acontece depois dessa vida, oremos pelos que morreram confiando na misericórdia do Deus que é Pai dos vivos e dos mortos. Não achamos perda de tempo, como alguns dizem, nem inutilidade orar por um falecido porque cremos na comunhão dos santos e sabemos que Deus está em tudo e em todos, inclusive naqueles que já morreram. (Apocalipse 6,9-11) “
 
 
 
 





 
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Lucia Moraës
Enviado por Lucia Moraës em 09/01/2016
Reeditado em 05/06/2019
Código do texto: T5505188
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