O ìndio e as Cotas Universitárias

Uma história real

Depois de três décadas sem sentar num banco escolar resolvi voltar a estudar. Escolhi fazer Turismo (fazer não é bem o termo, estudar, em se tratando do curso em questão, fica melhor). Uma sobrinha, que se inscreveu também, fez minha inscrição via Internet e me entregou o comprovante para o vestibular: Universidade Estadual do Amazonas, Grupo 10. Não tinha nem idéia do que significava esse tal grupo 10. Fiz o vestibular em duas etapas e fui aprovado com direito a parabéns, tapinha nas costas etc.

Voltei a me sentar em banco escolar. Grisalho entre os meninos, sem ninguém ao meu lado da mesma idade para me dar “apoio moral”. Apesar de achar que o horário de aula poderia ser mais bem aproveitado, constatei pasmo que os jovens de hoje usam a mesma malandragem que usávamos na idade média, para ganhar tempo e prazos, quando os iniciais eram estourados sem o menor constrangimento e a menor necessidade. Os professores fingindo-se de complacentes ou de durões, igual a todo o sempre.

Quando completei o segundo período, aprovado para o terceiro, recebo um ofício da direção informando que minha matrícula provisória havia sido cancelada. Levei um susto. Não sabia que estava estudando “provisoriamente”. O que houve?

Circulando entre uma secretaria e outra, fui informado que eu fizera o vestibular no grupo dos índios. Uma funcionária que não tirava os olhos dos meus cabelos e olhos louros, desconfiada me disse que eu não apresentara o atestado da Funai para comprovar minha origem. “Aqui diz que o senhor foi informado há dez meses”, disse-me ela mostrando um documento que, obviamente, não tinha minha assinatura. “O senhor não recebeu esse comunicado?” Claro que não tinha recebido nada.

De nada adiantou argumentar que não tinha intenção de tirar vaga de ninguém, uma vez que havia possibilidade de quatro índios estudarem na mesma sala e até agora eu era o único. Falso, mas único. O pedido de anulação da matrícula provisória foi rejeitado e eu ainda mereci uns olhares desconfiados de quem tentara também usurpar a vaga na universidade, depois de ter usurpado as terras dos legítimos donos dela.

Agora? Como limpar minha cara? Deletar, por despeito, tudo que tinha aprendido? Ainda estava no prazo para fazer a inscrição para novo vestibular. Fiz, desta vez para o grupo certo. Passei com um número muito maior de pontos do displicente exame que fizera há um ano antes. Desta vez era um ponto de honra. Tinha que dar certo. Pisei muito forte na hora de fazer a matrícula.

I am Back!

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 06/07/2007
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