Sancho

Nuno tinha um tio meio distante, irmão da mãe preta, chamado Sancho. Não sei não, dizia ela, eu acho ele meio perigoso, melhor deixar longe da molecada. Nuno não tinha irmãos, mas imaginava o grau das fitas do tio pra até a irmã querer longe. Família, dizia a mãe branca, só te dá o que não precisa. Ele tinha demais do tio.

Já fazia cota que a Scythe tinha sido demitida, e, depois da treta, Nuno decidiu que não rolava mais de colar no Laranja Mecânica. O novo rolê ficava na avenida, longe da escola, mas ele comia só. Foi numa dessas que, saindo do restaurante, ele acha um cachorro rasgando na pata um travesseiro de penas jogado na rua. A descrição do travesseiro já monta a cena do mendigo, de olho na peça, dando várias bicas no cão. A galera caiu em cima e o cão saiu vazado. Dó.

Um resto, mandou Patrícia, da guerra às drogas. Acabou, sim, mas o cachorro esta aí, desempregado. Você devia ter trazido ele com você, a criançada ia adorar. Nuno riu. Eu acho ele meio perigoso, melhor deixar longe da molecada.

O barulho do rasgo no terreno em frente era inconfundível, e dessa vez não tinha desculpa pra não levar o ex-PM pra casa. Scythe, sabendo o colega que tinha, riu gostoso. Não tinha melhor pra fechar o bonde. Coitado, pelo menos a PM-gente tem o tio Sancho pra revistar.