CASA DA TIA ZILDA E TIO PARANHOS

Tia Zilda, casada com o querido tio Paranhos era irmã do papai, dez anos mais velha, sempre considerou meu pai como um filho, era muito apegada a ele, sempre foram amigos, ela sempre o protegia, como sei disso? Bem sempre fui curiosa e a vovó Totonha sua mãe, contava muitas façanhas dos dois. Eu fico imaginando como deve ter sido alegre o dia dia deles, sempre lembro dos mesmos contando causos e piadas, bem fraquinhas, mas naquele tempo eram picantes, lembro que a mamãe ficava com ciúmes da amizade dos dois, coisas de esposa amorosa. Ela vinha de Pires do Rio, cidade que morava com sua família, seu esposo Tio Paranhos que trabalhava na Estrada de Ferro Goiás, primeiro como foguista e depois como maquinista. Eles tinham dois filhos, Persinho e Napoleão. Persinho da tia Zilda como era chamado, pois era o segundo Pérsio da família que bem mais tarde teria a benção de ter o terceiro Pérsio, o nosso querido irmão, mas este acontecimento será objeto de outra prosa.

Vocês pensam que a convivência dos dois irmãos Pérsio e Zilda sempre foi um mar de rosas? Pois é... Discutiam mais que gato e rato principalmente quando o assunto era religião, eles dois foram batizados e eram membros da Igreja Batista, minha tia permaneceu fiel, papai se desentendeu na Igreja, coisa pouca, bobagem da juventude, então ele aproveitava para ficar cutucando a Tia com vara curta, ela chorava até, a mamãe ficava pondo panos quentes, mas tudo terminava bem, a gente sabe que quando se é muito ligado a outra pessoa sempre penalizamos mais a quem amamos, tenho certeza que era este o caso dos dois. O importante era que sempre foram unidos pelos mesmos pais terrenos e o mesmo Pai Celestial.

A tia Zilda sempre foi muito amiga da mãe, minha avó Antônia e ela eram muito unidas, a vovó morava em Ipameri, mas ia sempre em Pires do Rio passar uma temporada por lá, como ela dizia, e nós ficávamos loucos de saudades, contando os dias para ela voltar, pois mimava todos os netos e contava histórias e estórias maravilhosas, só que ficava com muito sono e abria a boca sem parar e a gente falava: pára vó, pára vó...conta vó, conta vó... Quando ela pensava que todos já tinham dormido e ia saindo do quarto de fininho sempre tinha um espírito de porco ainda acordado, aí ela tinha que começar a contar as estórias de novo. Coitada estava com tanto sono... Eta tempo bão... ! Que não volta mais...

Quando o tio Paranhos aposentou eles mudaram da casa que pertencia a Estrada de Ferro, ela ficava ao lado da Estação, era um conjunto de casas iguais e os vizinhos eram todos ferroviários, a vizinha mais querida era Dona Antonieta, os quintais eram abertos e nunca soubemos de nada que pudesse desabonar a conduta delas, eram amigas e companheiras embora não professassem a mesma fé, mas tenho certeza que o testemunho de vida da Tia Zilda falou mais alto e a semente plantada floresceu nos corações daquela família.

Então, a família da Tia Zilda e Tio Paranhos mudaram para uma casa construída especialmente para eles num ponto bem distante desta perto da Estação que fez nossa alegria por tanto tempo. A casa nova ficava em frente ao Colégio mais importante da cidade e foi ali que visitamos este pequeno oásis anos e anos, onde todos eram recebidos com carinho. Tio Paranhos era muito sistemático, mas era seu jeito, e sempre procurava agradar também, desde que o David era pequeno nossos passeios preferidos era ir a Pires do Rio, onde a gente só saia de casa para ir á Igreja, eu sempre fazia um solo nos cultos, sem acompanhamento, na raça e era maravilhoso sentir a presença de Deus naquela Igreja Batista tão humilde, mas tão abençoada. O David aprendeu a cantar comigo e imaginem, fazíamos duetos, certos de que o nosso louvor era recebido pelo Senhor Jesus, pois era feito de todo coração e com o devido respeito, tínhamos certeza, pois a paz reinava entre nós.

O Persinho da tia Zilda casado com a Tianinha e seus filhos Marcia, Marcos e Fernando, depois da Escola Dominical iam conosco para a cada da avó, nossa tia Zilda, para brincarem com o David e jogar dominó, enquanto era preparado um lauto almoço pela Benedita, companheira e ajudante fiel da família. Como se esquecer daquela figura tão pequenina, cada vez mais emborcada, mas sempre alegre e comunicativa, cozinhava tão bem, ficava na cozinha do lado de fora da casa que tinha o fogão de lenha, era bem escurinho como ela e a gente quase não enxergava nada, ficava sumida no meio da fumaça. Ela gostava muito de coca cola que chamava de patacola, nós nos divertíamos muito brincando com ela.

São lembranças maravilhosas de muitos anos indo passar os feriados com eles. Às vezes quando a mamãe viajava para a praia com a cunhada Alice, o papai gostava de sair um pouco e muitas vezes íamos até Pires do Rio, ele adorava sair comigo e com o David, pois era muito apegado a ele, sentia verdadeiro prazer na presença do filho caçula e era correspondido plenamente. Meu sobrinho Rodrigo, filho do Renato também nos acompanhava, ele sempre foi nosso companheiro e amigo do David.

Vou ficando por aqui, mas certamente vou voltar a falar sobre esse assunto tão prazeroso.

Goiânia, 04 de abril de 11. Sônia!

Sônia Pedroso
Enviado por Sônia Pedroso em 23/02/2016
Código do texto: T5552293
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