Relatando....
Naquela noite acordei sobressaltada, minha mãe já antevendo o que poderia ter acontecido, foi logo me dizendo:
- Não conte sonho na cama, vou coar um café e depois você me fala. Fique calma.
Todas as vezes que aconteciam aqueles pesadelos, ficava trêmula, angustiada. Demorava a voltar ao normal.
Logo, ela voltou com uma caneca de café, sentou-se ao meu lado, alisou meus cabelos e esperou que estivesse pronta a relatar o acontecido.
- O que houve filha? Por que acordou assim? – respondi:
- Foi o trem mãe, ele matou duas pessoas de uma vez. Um homem e mais a frente uma mulher. Foi horrível.
Deitei a cabeça em seu colo e começamos a rezar.
Na manha seguinte, Dona Glória, uma vizinha amiga, chegou com aquele jeito bondoso, perguntando:
- Anita, já comprou pão?
Ela sempre procurava saber se nós tínhamos o que comer, pois passávamos por muitas dificuldades.
Minha mãe era viúva e o que recebia de pensão mal dava para pagar o aluguel e comer o mês inteiro.
Logo lhe foi relatado o que havia acontecido durante a noite e curiosa ficou a indagar:
- Era gente conhecida? Você se recorda?
Procurei desconversar e fui para o quintal cuidar das galinhas.
Nesse dia fazia muito calor e para defender alguns trocados, minha mãe colocou o isopor nas costas e foi comprar picolé para vender.
Como era sábado fiquei aprontando minhas tarefas escolares para mais tarde poder sair um pouco e conversar com minhas colegas.
Que susto levei quando a vizinha entra toda suada e tremendo dizendo:
-Dois foram atropelados agora, pelo trem. Um homem, apelidado de índio, e a D. Helena que lava roupas para fora.
- Estou toda arrepiada! Estão todos correndo para ver.
Imaginem como fiquei?
Maria Eugenia