ENCONTRO
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. (Vinicius de Moraes)
Teresa não conseguia concentrar-se no trabalho; a morte recente da mãe e o surgimento de um pai desconhecido tomavam conta de seus pensamentos. “O que eu faço”? “Será que devo ir de encontro a esse homem desconhecido?” Perguntas sem respostas.
Chegando à sua casa, seu marido a esperava com um belo jantar; ornamentado com flores vermelhas e velas decorativas, o rapaz preparara um momento romântico.
- Que surpresa boa, meu amor! – exclamou Teresa.
- Você merece querida. Está precisando distrair um pouco sua cabeça. Foram dias muito difíceis para todos nós. – respondeu Jorge, o marido.
- É verdade. Ainda estou tentando entender o que aconteceu. – acrescentou a moça.
- Vem cá, vem. Eu vou cuidar de você. – disse Jorge enquanto beijava sua esposa.
No dia seguinte, Teresa acordou disposta a procurar seu pai.
- O que você vai fazer? – perguntou Jorge.
- Vou procurar o meu “pai” ou quem quer que seja este homem. – respondeu.
- Quer que eu vá com você? – perguntou o marido.
- Não. Eu preciso fazer isso sozinha. Mais tarde nos falamos. – disse Teresa enquanto colocava o bilhete entregue pela mãe em sua bolsa.
Teresa saiu com o carro pela rua pensando em quem iria encontrar. Ela tentava imaginar como seria o pai; seria mal humorado? Seria divertido? Ao mesmo tempo, estava ansiosa para saber os motivos pelos quais não a procurou e o porquê de a mãe ter escondido esse segredo por tanto tempo.
A jovem parou o carro em frente à casa do tal pai. O nome informado pela mãe era Pedro, apenas Pedro. Não havia descrições ou qualquer pista que pudessem identificar o pai de Teresa.
Ela ficou parada durante uma hora. Apenas observava o movimento na casa. A rua silenciosa evidenciava a vizinhança pacata e tranquila. Era uma rua bem bonita, repleta de jardins e casas antigas.
Tomou coragem e saiu do carro em direção à casa de Pedro.
Tocou a campainha. Um homem bem alto e magro, porém bem velho, abriu a porta e perguntou:
- Pois, não. Em que posso ajudar, moça?
- Bom... Bom dia. Me chamo Teresa, sou filha da Adalgisa.
O homem, assustado, respondeu:
- Não conheço nenhuma Adalgisa. Desculpe-me.
- Qual o seu nome? Você não se chama Pedro? – questionou Teresa.
- Não, minha jovem. Meu nome é Luís. Não conheço ninguém com este nome. – afirmou o velho homem.
- Puxa! Eu vim de longe para encontrar meu pai. Minha mãe, Adalgisa, faleceu e a única coisa que sei sobre meu pai é que se chama Pedro e este era o endereço. – gritou.
- Desculpe. Mas, infelizmente, não posso ajudá-la, moça. – retrucou o senhor. E completou enquanto fechava a porta:
- Agora, se me dá licença, tenho muitos afazeres.
Teresa sentou em um dos degraus da varanda e começou a chorar. Levantou-se e já havia se aprontado para sair.
De repente, a porta abriu-se novamente e uma voz lá de dentro declarou:
- Ei, moça. Pode entrar. Precisamos conversar.
A jovem entrou na casa do velho senhor. Era possível sentir o cheiro de café fresco vindo da cozinha.
“Sente-se. Vou buscar um café para nós”. Disse o senhor.
- Então, você é filha da Adalgisa? - perguntou.
- Sim, sou. O senhor a conheceu? – perguntou Teresa.
- Claro que a conheci. Ela era uma mulher linda, cheia de vida. Alegre...Como ela faleceu? – indagou o homem.
- Ela cometeu suicídio. Tomou remédios em excesso e uísque, o que acarretou complicações que a levaram à morte. – respondeu a jovem.
- Meus pêsames, moça. Sinto muito pela sua perda. – disse o velho homem.
Teresa percebeu que uma lágrima caíra dos olhos do homem enquanto falava de sua mãe.
- Senhor, qual é mesmo seu nome? – indagou.
- Meu nome? É...
- Fala logo!
- Moça, meu nome é Pedro. – declarou.
- Então, você... Você é meu pai! – exclamou enquanto olhava fixamente para Pedro.
- Bem, é uma longa história mocinha. Sua mãe não deve ter tido tempo para lhe contar.
O pai de Teresa contou como tudo aconteceu. Pedro era também era casado na época em que se envolveu com Adalgisa. Sua esposa, Lucrécia, descobriu que ele frequentava o cabaret em que a mãe de Teresa trabalhava e consequentemente com quem mantinha um caso amoroso extraconjugal.
Ao desnudar a traição do marido, Lucrécia tomou os dois filhos e saiu do país para nunca mais voltar. Desde então, Pedro não tem notícias dos filhos. Contou, inclusive, que não sabia da existência de Teresa e que se o soubesse, de certo iria ao seu encontro e registraria como sua filha. No entanto, o casamento de ambos “impedia” que levassem esse romance adiante.
Depois de muito conversarem, chegaram ao um ponto em comum: o amor. Pela mãe e um pelo outro.
A vida é feita de encontros e desencontros. Há vezes em que a vida nos prega peças e renova nossa vontade de viver. É claro que a convivência e a confiança com o passar do tempo, mas o amor nato que um tem pelo outro é combustível para alicerçar a boa relação.
Se Teresa e o pai foram felizes? Nunca saberemos. A vida é cheia de surpresas, meus caros.