Acasos da Vida

Seria uma manhã como outra qualquer: onde ele acordaria, tomaria um café da manhã, se arrumaria e subiria a rua de sua casa para pegar o ônibus e ir à escola. Engano do jovem, naquela manhã haveria algo de diferente para acontecer, observar e vivenciar, e é nesse fato que pretendo me ater e contar o desenrolar dessa história.

Ao entrar no ônibus como fazia todos os dias, sentou-se em um banco vazio e observou as coisas ao seu redor (mesmo que morrendo de sono). Naquele dia, adentrara no ônibus uma garota como tantas outras que iam para a escola e dividam o espaço do ônibus com ele.

Aquela garota apresentava algo de diferente, não se sabe se era impressão do garoto, mas em um determinado momento seus olhares se cruzaram, e aquilo para ele foi um tanto quanto mágico, pois ficou perplexo a observando e curioso em conhecê-la.

Outro dia a encontrara novamente no ônibus, e a partir dali passou a reparar na moça. Em um dos primeiros dias ela estava com um livro, e o jovem estava curioso para descobrir o que ela lia e talvez conhecer um pouquinho sobre o gosto literário dela, ainda assim, seus olhares insistiam em se cruzar. Até hoje não sabe quem olhou para quem primeiro, entretanto, sempre tinha a certeza de que ela de alguma forma olhava para ele, e aquilo alimentava o teu ser, onde ficava mais desperto no ônibus e criava uma esperança em poder conhecê-la.

Esses olhares cruzados se perduraram por alguns dias, mas em momento algum criava coragem para falar com aquela guria, ela ficava sempre em seu canto com toda a sua graça. Pensava em maneiras de conversar com ela, mas a timidez sempre falava mais alto, maldita timidez que pairava no ar e ousava o atrapalhar...

Passado um tempo, tinha chegado as eleições e aquele jovem já possuía o seu título de eleitor e iria cumprir com o seu dever/direito enquanto cidadão. Desceu a rua de sua casa, entrou na escola, foi até a urna e votou pela primeira vez. Estava se sentindo importante/ participativo na sociedade, apenas se incomodava por não entender sobre política.

Ao sair da escola, ele iria ao mercado comprar algumas coisas para sua irmã, mas algo o surpreenderia naquele belo dia. Em frente ao muro da escola, ele a viu de longe, aquela garota que chamava a sua atenção no ônibus estava ali entregando cartão de algum político, como era caminho para o mercado, ele fez questão de passar ao lado dela.

Chegando perto dela, a moça estendeu o braço e ofereceu um cartão daquele político e disse:

-Você já vota? Pega um pra você, ele é o meu pai.

Então ele pegou e respondeu:

-Acabei de votar, inclusive, votei em seu pai. Ele deu aula para meus irmãos, e os meus pais tinham pedido para votar nele.

A jovem sorriu e agradeceu pelo voto. Logo, o garoto completou dizendo:

-Qual o seu nome?

- Bárbara, ela respondeu. E o seu?

- Rafael, prazer.

Um pouco sem graça e contente por ter conhecido ela, o garoto diz:

-Tenho que ir ao mercado para comprar umas coisas pra minha irmã agora.

Então a garota disse:

- Nos vemos depois.

Ele respondeu alegre:

- Nos encontramos no ônibus então (risos).

Dias depois se encontraram no ponto de ônibus, se cumprimentaram e sentaram juntos. Foram a viagem inteira conversando, até o momento em que ela ia descer (ela descia antes dele), então ele terminava sua viagem sem a ótima companhia dela. E foi assim durante os próximos dias, muitas vezes eles pegavam o ônibus juntos, e isso fez com que eles estreitassem os seus laços.

Hoje, aquele garoto tornou-se um homem, lembra com certa nostalgia dela, principalmente do acaso que visitou ele e fez com que a conhecesse. Aprendeu que a vida pode nos proporcionar muitas coisas lindas, e o acaso muitas vezes se faz presente nelas. Está sempre atento a sua volta, com olhar desperto e sensibilidade à flor da pele, apenas continua seguindo em frente, trilhando o seu caminho em busca da felicidade, e quem sabe o acaso visite-o novamente...