O HOMEM AZUL
O homem azul
Quatro horas de espera, estava ali sentado esperando ser condenado, depois de um julgamento tenso e cheio de mentiras, ele e sua advogada sonolenta já sabiam o resultado, aves de rapina querem carniça.
Ele é alto forte e bonito no momento não tem nome, posso chamar aquele homem pelo apelido: Sr. Blue, por causa dos olhos azuis e da barba grisalha com de gelo, não tinha mais que sessenta e cinco, aparentava menos, principalmente quando estava sem a barba.
Pensou:” Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.” A frase é de Friedrich Nietzsche, mas poderia se encaixar ali, os abutres estavam comendo a sua carne.
-O que fiz, porque não me entendem, foi um erro, eu sei, mas estava tenteando acertar? – perguntou o S.r. Blue ao intendente.
-Negligencia, deveria ter ouvido a vó Ziza, ela disse que era cobra e o senhor disse : “ não é cobra porra nenhuma curandeira dos infernos”, foi o que repetiram todo esse julgamento – disse o intendente, homem de bigode fino, pescoço curto e grande barriga, limpava o nariz continuamente com um lenço branco, pois sofria de uma rinite terrível, completou após limpar o nariz – mas isso é com o senhor juiz.
-É fato que não sabia que havia sido uma cobra, como posso acreditar em uma velha louca se o pai da criança se cala?
O intendente estava sem paciência, limpou o nariz e franziu a testa, deve ter pensado:
“Na frente do juiz não será o doutorzinho que impressiona as mulheres!”
Blue levou às mãos a cabeça e olhou para o intendente e outro pensamento veio a sua cabeça: “Não se odeia quando pouco se preza, odeia-se só o que está à nossa altura ou é superior a nós.” Para que teria lido tanto Friedrich Nietzsche, agora de nada valia.
-O menino ficou sem enxergar, o que aconteceu com ele? – perguntou Blue.
-Ficou paralitico – disse o intendente com um sabor de morango na boca, aquela boca cheia não estava ali para zombar, mas a comemorar o erro de Blue.
-Pensei que fosse uma infecção.
O Juiz chegou e disse a sentença, estava tudo terminado, Blue ficaria preso por longos anos em uma cadeia fria e não poderia curar mais ninguém.
Blue levantou a mão para falar ao juiz.
O juiz permitiu.
-O pai não me falou que o menino caiu em um buraco de cobra, disse nada, pesei que fosse uma infecção.
-A vó Ziza falou – disse o Juiz – e o senhor não ouviu.
-Como poderia?
O Juiz nada disse.
Blue salvou a filha dele, a sogra, e o netinho de uma peste e mais da metade da cidade devia a vida a Blue, então o Juiz poderia sentir remorso, até atenuar a condenação de Blue, mas a lei precisava ser sentida em sua santidade e em sua crueldade, a família precisava de uma carcaça.
-Vinte anos de cadeia.
Blue levou à mão a sua cabeça.