O Natal e o correio

Ela é pequena,delicada, fala baixinho.As pessoas imaginam -os estereótipos - que quem fala baixinho e são delicadas no trato social, são boas, gentis, coerentes,compassivas,anjos procurando as asinhas que perderam e ficaram enroscadas em algum galho de árvore. Ouço comentários:

-Não sei se é boa ou não, até pode não ser, mas que é fácil lidar com ela, isso é mesmo!

Nada sei sobre a coerência desse conceito. Mas no caso dessa amiga de esteira de academia, ela se encaixa -é mesmo uma boa alma. E dessa esteira fomos para o correio era véspera de Natal ,todo mundo corria para o nada, o Aniversariante observava tudo com tristeza.Dona Beatriz sorria seu sorriso engessado, mas - sempre o mas - quando viu a fila imensa e senha, ficou tensa. Os olhos tomaram uma cor meio acobreada, num instante despenteou o cabelo sempre tão arrumado de tanto mexer nele, sentou-se e não falou mais. De minha parte,fiquei tranquila e sentei-me feliz ; a esteira e ao tal Pilates ,mais um olho de peixe, agradeceram comovidos o esperar. Senti que Beatriz observava a todos até se chegar a um rapaz de boné, tênis surrado co a beirada meia torta e moletom. E Beatriz ataca :

- Você não gostaria de trocar sua senha comigo meu bem, estou com tanta pressa ,tenho tanto o que fazer eu..iria lhe dar um agrado claro,alguns a observam com surpresa, eu inclusive outros ainda sus-

suspiram, coisa de brasileiro quando dá de cara com a corrupção: - Olha aqui dona tô aqui faz tempo tenho, depois..

Ela tem agora a voz num tom mais alto do que se costumava ouvir; - mas sabe, ele a interrompe : - tenho um monte de documento pra despachar e, dessa vez ela o interrompe:- por isso mesmo querido, e o querido sai meio esganiçado é quase Natal e você ganha uma gorjeta, o tom se amolece na gorjeta certa imposição rastejante; cansado da lida,do relógio que o ambulante prometeu fazer um preço bom pra presentear a mãe, ele cede.

Eu a olho com franca reprovação mas ela segue triunfante pula meu desafeto, empurra a ética, pisa no pé da compaixão: - É quase Natal, eu dei uma gorjeta para uma pessoa pobre ela bem que estava precisando você não acha? O tom de voz,aos poucos vai tornando-se morno, delicado. É véspera de Natal.Daquele que disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. O Aniversariante nos olha desconsolado e sai pela porta azul.E sobre o tal estereótipo não quero nem falar.

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 05/06/2016
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