DUBLÊ DE COELHO

Os anos em que vivemos em Maringá, se não nos trazem saudades pelos apuros financeiros que enfrentamos, nos marcaram com gratas recordações de momentos especiais, principalmente vividos com o meu filho Lucas quando bebê.

Alguns destes momentos ímpares experimentamos após nos mudarmos para uma pequena casa alugada que tinha um grande e bonito terreno, com plantas, gramado e algumas árvores frutíferas.

Um belo dia resolvemos comprar para o Lucas dois coelhos pretinhos, que ele batizou, com os sugestivos nomes, de Um e Dois.

Ambos rapidamente cresceram e era realmente encantador vê-lo carregando-os pelas orelhas de um lado para o outro.

Quando nos mudamos para Cascavel, tivemos o cuidado de trazê-los, foi também quando descobrimos que se tratava na verdade de um casal, isto ao encontrarmos uma toca com quatro filhotinhos.

Infelizmente na mesma semana em que foram descobertos, todos foram furtados, inclusive o Um e o Dois, o que deixou a nós e ao pequeno Lucas muito magoados.

Um dia, quando visitávamos o pastor José Carlos (um amigo especial) em Maringá, após relatar-lhe a história acima, tendo ele também uma criação de coelhos, insistiu para que trouxéssemos um filhote; este ao contrário dos outros era branquinho, de pelo lanoso e impressionantes olhos vermelhos.

Em Cascavel, resolvemos que sua morada seria na churrasqueira, que andava desativada, pelos motivos já citados no primeiro parágrafo.

Durante o dia deixávamos o coelhinho solto, para que o Lucas com ele brincasse e à noite o recolhíamos na churrasqueira, protegido por uma tela eficientemente projetada para sua segurança contra qualquer caçador de hábitos noturnos.

Tudo correu bem, até uma noite em que me esqueci de recolhê-lo; nesta noite aconteceu uma tragédia que passo a descrever:

Encontrava-me no mais profundo sono quando, agitado freneticamente pela Fabiana, acordei; esta, esbaforida e quase sem fôlego, me arrastava, ou melhor, me empurrava para o fundo do quintal para que eu visse a trágica cena.

Em lá chegando, deparei-me com um quadro tétrico e realmente trágico, o coelhinho estava morto, estendido no chão como se fosse um pequeno tapete, um animal havia devorado somente as suas entranhas, quase não se via sangue no local, também não foi possível descobrir em seu corpo nenhum ferimento. Nessa época estava em evidência as histórias do Chupa-cabras, isto serviu para aumentar ainda mais a nossa inquietação.

Refeitos do choque inicial passamos a nos preocupar com o Lucas, pois quando acordava a primeira coisa que fazia era ver como estava o seu coelhinho.

Então resolvemos que iríamos comprar outro coelho e substituir o falecido, tomando os cuidados necessários para que o Lucas não percebesse a troca.

Assim fiz, busquei nas lojas de produtos agropecuários e aviários, até encontrar um que fosse branquinho, de pelo lanoso e impressionantes olhos vermelhos, certifiquei-me de que o tamanho fosse equivalente, meu dublê era perfeito!

O Lucas acordou e como de costume foi inspecionar o seu animalzinho...após alguns minutos, voltou e me alertou:

- Pai, não sei o que aconteceu esta noite, mas, as orelhas do coelhinho encolheram!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 06/06/2016
Reeditado em 22/09/2021
Código do texto: T5659314
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