LAÇOS DE FAMÍLIA - Parte II

Laços de Família – Parte I

....... Assim, Alice deixou seu Maranhão e partiu em direção a São Paulo.

(Sugiro ao caro leitor, que leia a Parte I primeiramente – se ainda não o fez – antes de prosseguir, para uma melhor compreensão)

Laços de Família – Parte - II

Os primeiros dias naquela cidade foi de verdadeiro assombro para Alice. Trânsito infernal, pessoas num corre-corre; ninguém se cumprimentando, tão diferente do interior do seu Maranhão.

No início ficou alojada na casa de uns conterrâneos, assim que conseguiu um emprego foi morar numa pensão próxima dali.

O primeiro emprego foi numa lanchonete, o salário não era muito, mas dava para pagar a pensão e sobrar uns trocados.

Alice era determinada, tinha foco, sabia o que queria da vida e naquele instante o que precisava era voltar a estudar. Sabia que tinha perdido muito tempo, precisava recuperar o tempo perdido. Se matriculou no curso supletivo.

A vida ali era como se estivesse prisioneira. As construções coladas nas outras, prédios altos, nunca mais ela pode ver o pôr-do-sol, beleza maior das tardes na sua cidade no Maranhão. Se não fosse o relógio, nem dava pra saber direito se o sol já estava se pondo. Sentia-se um pouco sozinha, quase não tinha com quem conversar, dividir os problemas. Através de uma colega da pensão passou a frequentar um baile dançante, que acontecia sempre aos sábados, nas tardes / noites, num clube próximo dali.

Sua vida se resumia em trabalhar durante o dia e a noite dedicar ao seu curso de supletivo. Assim sendo, quanto estava no seu quarto, estava sempre a estudar. Já estava mais acostumada com aquela cidade, já se passara mais de ano desde a sua chegada.

A solidão e a carência afetiva, levou-a a se interessar por um rapaz que também frequentava o baile. E assim, começou um namoro. Mas sempre com foco em seus estudos.

Conclui-se o curso supletivo e começou a frequentar um cursinho preparatório pra vestibular pois queria fazer uma faculdade.

Já estava com seis meses de namoro, então resolveram morar juntos, assim a vida ficaria mais em conta, pois poderia dividir o aluguel do quarto.

O seu namorado não era muito a favor que ela estudasse, mas ela continuava determinada, no seu foco. Todo tempo que lhe sobrava era sempre “debruçada” em cima dos livros. Sempre muito determinada e focada, acabou conseguindo êxito no vestibular e entrou para faculdade de odontologia.

Já havia mais de dois anos que ela e o namorado moravam juntos, decidiram oficializar aquela união e se casaram. Mas nem bem passou muito tempo, ele – seu marido agora, voltava a implicar com os estudos dela. Mas ela a contra gosto dele, continuou e conclui os estudos na faculdade.

Começou a trabalhar em clínicas odontológicas, até poder montar seu próprio consultório. Alguns anos depois se mudou para Belo Horizonte, acompanhando o marido que havia montado uma empresa naquela cidade. A família já havia aumentado, agora já existia a pequena Juliana.

Logo se adaptou a cidade. Instalou seu consultório, mas não foi muito fácil no início, levou algum tempo para aparecer os primeiros clientes. Mas aos poucos os clientes foram aparecendo e ela sentia a vida com otimismo.

Mesmo estando bem, ela nunca deixou de pensar nos irmãos, no pai, na mãe. Alguns dos irmãos e irmãs ela os viu quando ainda morava com eles na cada dos pais, pois muitos foram morar em outra cidade, em casa estranhas, assim como ela.

A cidade de Belo Horizonte oferecia oportunidade de trabalho na área de educação. Ela Viu grande perspectiva de ingressar nessa área e assim, resolveu estudar um pouco mais, fez mestrado. Sua filha, uma ótima filha, sempre muito estudiosa, logo se graduou em direito.

Alice por sua vez, continuava a estudar e fez o doutorado. A sua filha sempre lhe dando orgulho, logo se transformara em Juíza de direito.

Alice se sentia realizada profissionalmente, tinha uma vida muito feliz, um marido bom, companheiro, com sua empresa sólida; a filha juíza, se sentia muito orgulhosa de si, sentia muito feliz.

Mas não demorou muito para Alice ver o seu casamento desmoronar... Descobriu o envolvimento do seu marido com a secretária dele da empresa. O relacionamento dos dois – marido e secretária - não era uma coisa nova, já vinha acontecendo a algum tempo, tanto assim, que já tinha criança nova à caminho. Ela ficou sem chão...

Foi uma decepção muito grande para ela, viu seu castelo desmoronar. Mas ela era uma mulher forte, mesmo diante da dor, não se prostou em lamúrias, mesmo porque diante de tudo que ela passou na vida, não seria isso que iria derrubá-la.

E assim, sem alarde e de maneira civilizada, rompeu os laços matrimoniais, resignou com a sua dor; redirecionou seu caminho e continuou a seguir a diante. Embarcou numa nova etapa de estudos, o pós-doutorado.

Apesar da vida em abundância que agora tinha, ela sempre lembrava com saudade de quando vivia com os seus irmãos na casa dos seus pais.

A posição profissional que hoje ocupava lhe conferia a obrigação de frequentar lugares com requintes, um meio bem diferente das suas raízes. Se tornou uma figura de destaque, ministrando cursos, palestras, etc e tal, com viagens ao exterior inclusive.

Mas apesar disso tudo, nunca se esqueceu daquele calor familiar - lhe fazia muita falta. E tomou uma decisão, iria se mobilizar para reunir todos. Queria sentir aquele calor novamente. Aguardaria apenas a conclusão do pós-doutorado. Sabia que não seria fácil, pois além de morarem espalhados por este Brasil, muitos deles ela nem sabia direito como viviam.

Alice era uma mulher diferenciada, iluminada, abençoada, forte. Apesar do rompimento dos laços conjugais, ela nunca deixou de querer bem ao seu ex-marido, de se preocupar com ele. Se preocupava sempre em saber como ele estava. Ficou machucada claro, mas não tinha ressentimentos e nem mágoas.

Os preparativos para o casamento da sua filha vieram como um bálsamo, aliviando a sua dor, lhe desviando um pouco a atenção daquele problema. Apesar da sua filha, tomar a frente das providências, ela estava sempre por perto, ajudando, opinando, acompanhando nas viagens, etc. Tudo foi feito com muito zelo e requinte. E assim, era mais uma realização na sua vida – O casamento da sua filha.

Com o título de pós-doutorado e já aposentada de um cargo, tinha mais tempo para dedicar ao seu novo “projeto”.

E assim o fez, começou a se mobilizar. Logo ela pode perceber que não seria tarefa das mais fáceis. Além da dificuldade de contato, pois não se tinha os meios de hoje – principalmente celulares e redes sociais – havia o desgaste de convencer alguns que não partilhava da mesma idéia dela. Alguns não queriam mais voltar à sua terra natal; outros tinham ressentimentos, mágoas, etc. Doze irmãos(ãs), treze filhos com ela, as dificuldades eram tamanha, os empecilhos eram muitos.

Na verdade, ela não queria bem uma festa de reunião de família, com os descendentes do seu Genário e dona Matilde e sim, ela queria mesmo eram os seus irmãos e irmãs reunidos, queria sentir àquele calor...

Levou-se quase dois anos nessa tarefa de conseguir agendar uma data para o encontro, com a presença de todos garantidas.

Ela tomou todas as providências. Os irmãos(ãs) que moravam mais próximos ou na cidade, ajudaram nos preparativos. Ela estava muito ansiosa e emocionada, só de estar ali com o seu pai e sua a mãe novamente, já era uma dádiva.

Na noite que antecedeu o início do encontro, ela quase não dormiu, estava muito emocionada. Nem mesmo o dia clareou, ela já ficou de pé. Não aguentou ficar na cama. Era notório sua emoção.

Cada irmão ou irmã que chegava, seu coração parecia querer sair pela boca. Abraços, lágrimas, sorrisos... Sentir o calor de cada um novamente, o cheiro, o mesmo cheiro que ela tanto sentiu saudades... Ah, como era gostoso estar ali novamente no meio daqueles que eram seu sangue...

Impossível descrever o contentamento da sua alma, que estava verdadeiramente em festa.

Cada um contando um pouco da sua vida, daquilo que passou, das conquistas, etc.

Foi uma comoção total, abraços e lágrimas de alegria. Enquanto durou àquele encontro foram momentos de contentamento, momentos verdadeiramente felizes, onde puderam sentir novamente o calor da “ninhada” do seu Genário e dona Matilde.

Conclcusão...

A vida é assim, tem valores que são importantes na vida da gente. Por mais simples que seja uma família, por mais singela que seja uma casinha, por mais modesto que seja um lar, sempre poderão abrigar o calor de um “doce Lar”. Calor esse que poderá nos acompanhar por todo o sempre.

(Um conto baseado em fatos reais, preservados seus personagens reais)

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 30/07/2016
Código do texto: T5714123
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