VALEU, MEU AMOR

Eu vinha tão contente com o dia de sol que chegava a rir sozinha. Finalmente, o calor. Depois de um inverno nojento, de chuva e frio, a primavera tinha dado o ar da sua graça. Tudo estava luminoso e brilhante. Eu própria me sentia renovada, pouco me importando com meus três quilos adquiridos por conta do frio. Dane-se! Depois eu daria um jeito de emagrecer. Tudo o que eu queria naquele momento era sentir o calor no meu corpo. Por isto eu estava me sentindo tão bem. Estava.

Eu vinha distraída pela rua, cantarolando até. Então eu tive aquela visão. Uma visão que me remeteu para dias nublados e úmidos, que afastou o sol da minha vida em segundos e me deu vontade de me enfiar no primeiro bueiro que surgisse na minha frente.

O Jurandir. Meu ex. Ex-namorado, meu ex-noivo, meu ex-quase marido. Dois meses antes da data marcada para o nosso casamento, ele me revelou que não estava preparado para casar. Achei que ele só queria adiar a data, mas que nada! Ele queria acabar com tudo mesmo. Foi um choque. Meu vestido, os convites, o salão… tudo por água abaixo porque o Jurandir tinha resolvido que não queria casar comigo. Fiquei deprê e nunca mais namorei ninguém. E já fazem quase dois anos. Nunca mais vi o cachorro. Minha mãe me contou que ele tinha engravidado uma outra moça e por isto tinha rompido o nosso noivado. Não acreditei. E de repente, lá estava o Jurandir, a alguns passos de mim, naquele dia lindo de sol.

E ele não estava sozinho. Vinha com a mulher e o filho, um bebê que era a cara dele, pobrezinho. O Jurandir bem que tentou disfarçar. Eles vinham vindo pela rua, aproveitando o dia como eu. Quando ele me viu, resolveu entrar no primeiro boteco que apareceu. Acho que ficou com medo que eu fizesse algum escândalo. Bem que eu tive vontade.

E a mulher dele nem era bonita. Mesmo sendo mais nova que eu, era o que a gente chama de “baranga”. Fora de forma, os cabelos precisando de uma tintura, vinha pela rua de abrigo e tênis, desleixada. Cruzes, pensei, como que o Jurandir tinha deixado uma mulher ajeitadinha e cheirosinha que nem eu e ficado com aquela tipinha?! Ahá! Me senti o máximo. O sol voltou de novo. Aquilo seria o meu futuro se eu tivesse me casado com o Jurandir. Talvez eu estivesse acomodada, só preocupada em procriar e comer pipoca na frente da TV. Ou nem importasse em sair relaxada pela rua, vestindo o primeiro trapo que eu encontrasse no armário.

Ah, Jurandir... você me fez um favor. Só de olhar para esta sua barriga indecente, tenho a absoluta certeza de que é bem melhor estar solteira a ter casado com um traste como você. E olhando bem para a sua cara, me parece que o tédio que você sente vai te dar úlcera mais tarde. Será que você está satisfeito, querido? Ou teria sido bem melhor ter ficado comigo? Bem, jamais saberemos. Mas só de te olhar, dá para adivinhar a resposta. Obrigada, Jurandir, por você ter me feito tão feliz.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 22/07/2007
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