O ENCONTRO INUSITADO

Tino acordou mais uma vez cedo e com o mau humor de sempre. Ele trabalhava no porto da cidade, e tinha que despertar às 3 da madrugada. O silêncio no barraco sinalizava uma solidão muito grande. Desde que Enedina foi embora há 2 anos junto com o único filho do casal a sua vida tornara-se um grande marasmo. Quando levantou-se da cama Tino observou o seu quarto com poucos e velhos móveis. O salário de portuário permitia apenas gastos com comida e a conta de luz e água. Ele não encontrava espectativas por dias melhores devido ao seu pequeno grau de estudo. O portuário aprendeu apenas a ler e escrever, pois o seu pai achava a escola uma grande perda de tempo. Logo cedo o velho Totonho estimulava os filhos a trabalhar em qualquer serviço. Tino levantou-se e foi até a cozinha que tinha apenas um fogão de lenha e duas panelas para o feijão e o jabá. As paredes do barraco estavam cheias de buracos que permitiam a visão mais alta do morro. O portuário abaixou a cabeça para refletir sobre a sua vida. O encontro inusitado aconteceu naquela fria madrugada. O olhar de Tino foi de encontro ao dela. A fêmea olhava fixamente para o homem com o olhar cabisbaixo. Os dois se olhavam fixamente. Tino não entendia o que ela procurava naquela cozinha vazia e suja. Ela não entendia o que aquele musculoso homem fazia ali em seu início de turno. A fêmea tinha que se alimentar de alguma coisa e a presença dele atrapalhava os seus planos. Assim se passaram cinco minutos, até que o portuário lhe perguntou: - O que você quer?. Eu tenho apenas um pedaço de jabá e farinha. Ela, envergonhada, não falou nada e fez apenas um pequeno gesto com a cabeça. Tino entendeu que a fêmea compreendera as suas palavras. Os dois se comunicavam apenas por sinais. O portuário e a barata conversaram por um longo tempo e expuseram os seus problemas e dilemas. E assim o casal compreendia um ao outro, e marcaram um novo encontro para uma nova troca de idéias. Agora o portuário encontrou quem lhe desse apoio em sua vida. Mas, qual !, Tino acordou e se deu conta que dormira sentado refletindo sobre os seus problemas. Ele ainda disse: - Ah, que ressaca danada! Aquela cachaça de seu Zuza tava envenenada!.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 18/09/2016
Reeditado em 18/09/2016
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