A fé de cada um...

Caminhava rapidamente pela avenida Jabaquara, quando olhei para o lado e parei...parei por uns segundos em frente aquela Igreja tão acabrunhada ao lado de outra tão imponente...Olhei aquela imagem de São judas Tadeu tão grande e tão serena diante do portal tão iluminado e aberto para todos os que quisessem entrar...

Me remeti ao passado...quando eu ainda menina ,tinha talvez uns sete anos e meu pai todos os anos no dia vinte e oito de outubro,cumpria o mesmo ritual naquela Igreja...pagar uma promessa...Nunca soube o certo qual era exatamente o prometido ou a graça recebida...mas sei que por muitos anos o sacrifício foi grande e penoso, mas alguém tinha que ir...

Morávamos no meio do nada...tudo era mato e deserto...nossa luz era de lamparina e a água de um poço barrento e já quase sem vida...era assim que vivíamos...mas éramos uma família...A gente ia para a escola...íamos na missa aos domingos e eu só me lembro que tudo era tão longe..

Minha mãe tinha muitos filhos, e eu já comentei muitas vezes que hoje eu sei porque se dizia...Deus é quem manda os filhos...realmente a simplicidade e ignorância das pessoas muito simples e sem recurso era ter os filhos que Deus mandava...não se tinha nenhum acesso a nenhuma informação ou método anticoncepcional e preservativos então... acho que nem existia...e assim os filhos chegavam...

As pessoas eram muito religiosas e temente a Deus...faziam promessas e se agarravam em graças supostamente alcançadas mas que no fundo eram as consequências de uma melhora natural da doença ou um suposto acontecido drástico no qual se escapou ileso e que no momento se acreditava que foi apenas a fé que o salvou...e que alcançavam uma graça divina...

E assim meu pai era o predestinado a sair de madrugada, caminhar horas...pegar ônibus ,bonde e caminhar mais até chegar a esta Igreja tão simples para os tempos de hoje, mas para aquela época era o Templo dos milagres de São Judas Tadeu...

Lembro da minha mãe preparando um lanche na véspera, uma garrafa com café, e contando o dinheiro tão minguado, mas era o suficiente para ir e voltar e ainda poder trazer uma minúscula medalhinha benzida de São Judas Tadeu da qual ela guardava com carinho e respeitava muito...

Depois que meu pai foi embora, nunca mais esta cena se repetiu...minha mãe com todos aqueles filhos pequenos ,jamais poderia cumprir este ritual do dia vinte e oito, e ir até a Igreja acender uma vela e trazer aquela tão milagrosa medalhinha...

Hoje trabalho perto desta Igreja e as vezes ando em frente a ela, e em todas as vezes eu olho para aquela imagem enorme de São Judas Tadeu com os olhos tão tristes e marejados.. bem ao lado a igrejinha antiga e acabrunhada onde meu pai se ajoelhou tantas vezes,...meu coração aperta.. e eu volto por alguns segundos ao meu passado...Naquela época era tão difícil chegar até aqui por uma crença que ultrapassava todos os seus limites...era tão distante e tão penoso chegar... e eu agora estou aqui tão próximo e quando passo em frente só levanto os olhos e com um respeito profundo... agradeço em silêncio a esta imagem tão significativa e importante na vida da minha mãe e do meu passado...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 01/10/2016
Reeditado em 05/11/2017
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