Parece mas não é!!!

As lições da vida são as melhores e que ficam gravadas em nossas memórias para sempre...Alguns anos atrás meu trajeto para ir trabalhar era a av Carlos Lacerda esquina com a av Abraão de Morais no bairro da Saúde

Todas as manhãs eu me deparava com um jovem de mais ou menos uns 30 anos em sua cadeira de rodas pedindo auxílio e que no caso eu diria esmolando... Confesso que eu me envergonhava ao vê-lo e ficava desviando o foco porque não achava jeito de encará-lo sem dar um auxílio que no caso era dinheiro, e como ele estava sempre com uma roupa em ordem e limpa, eu tinha mais vergonha ainda de lhe dar apenas dois reais que é a minha meta para dar uma esmola, eu dava cinco reais, mas se eu tivesse que dar cinco reais todos os dias ficava pesado para mim, então eu era obrigada a balançar a cabeça em forma de um não e dizendo, hoje eu não tenho!

Esta situação de encontrar aquele rapaz todos os dias embaixo de sol ou chuva me constrangia... mudei meu caminho e passei a dar uma volta maior para fugir desta situação que não me agradava... passaram se alguns meses, voltei a fazer o mesmo percurso, e lá estava novamente o mesmo rapaz cadeirante suado com um boné e as mãos esticadas pedindo... pedindo...

Depois de pensar muito, cheguei a conclusão que precisava ajudá-lo e assim me envolvi tentando encontrar uma forma para que ele não precisasse pedir e sim oferecer. Fui em uma loja distribuidora de doces no Ipiranga e comprei uma quantidade daqueles que os ambulantes vendem em faróis , mentex balas de goma amendoim de diversas formas, trydent, salgadinhos etc...etc... Fui a um marceneiro e pedi que fizesse uma bancada de colo, com um alça no pescoço que ao fechar se transformasse em uma maleta.Expliquei para quem era e ele caprichou tanto que eu me surpreendi com a praticidade e leveza da bancada.

Arrumei os doces e coloquei o restante em uma mochila para reposição e sai saltitante de casa naquele dia com o coração batendo de alegria e curiosa para ver a cara da pessoa ao receber um pequeno comércio de doces, no qual ele poderia se sentir útil e ganhar seu dinheiro com altivez e orgulho trabalhando nos faróis e não mendigando...

Parei o carro em uma rua transversal e fui até ele com a minha engenhoca ambulante e a mochila carregada de doces para reposição, Foi tudo muito lindo,ele agradeceu e eu me senti realizada até o dia seguinte, pois ao passar novamente naquele cruzamento vi a mesma pessoa em sua cadeira de rodas com as mãos estendidas e pedindo... o farol abriu e eu tive que ir embora sem resposta.

Não acreditei e pensei o que aconteceu??? depois de algumas vezes passando sem saber pois ele estava longe de mim e eu não poderia abandonar o carro no cruzamento e ir até ele, chegou um dia e eu na primeira da fila lhe perguntei: Você se lembra de mim? cadê a bancada de doces que lhe dei? Ele me respondeu friamente ROUBARAM... e eu me senti tão pequena que nada esbocei em resposta, fiquei sem saber o que falar, sai cabisbaixa.... Mudei novamente o caminho e pronto!!!

Passaram-se alguns meses começou a trabalhar uma nova funcionária no escritório e quando ela disse que morava na av Abrão de Morais eu lhe contei a história do jovem cadeirante que pedia no farol da esquina de onde ela morava e que eu tentei ajudar. Qual foi o meu espanto quando ela falou que o conhecia de muitos anos e que ele tinha até um carro adaptado que usava para esmolar e que deixava na rua de atrás do farol na garagem de um parente dele. e que as vezes ele mudava de ponto em vários bairros diferentes para não desgastar os doadores. e deixava o carro estacionado próximo aos locais

Falei os detalhes do rapaz e ela continuava dizendo que era ele. Pedi a ela que se podia busca-la no sábado para passarmos juntas, naquele local e tirarmos a dúvida e ela aceitou. Foi muito triste para mim detectar a verdade e saber dela que pedindo ele ganhava muito mais do que vendendo algo, pois a cara de tristeza dele convencia muito mais as pessoas a darem valores maiores, do que pegar dinheiro naquele rápido momento e comprar algum doce do qual a pessoa não comeria. Ela disse que ele tinha roupas e tênis de marcas caras, além do carro e que o apartamento dele era no térreo, e mil vezes melhor que o dela, e a pior parte que ouvi foi que, ele morava com a mãe e um irmão adulto e que só ele "TRABALHAVA" (me perguntei cabisbaixa, Isso é trabalho!)

E assim foi mais uma desilusão no meio de tantas que eu já tive no meu trajeto de ajudar as pessoas... Mas vale a pena lembrar que também tive muitas alegrias neste trajeto e que continuo tendo a certeza de que "É dando que se recebe" e é muito mais gratificante dar do que receber...e que a dádiva de ter o que tenho é fruto da pessoa que sempre fui e com muita paz e alegria continuarei sendo...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 10/10/2016
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