Eles merecem aplausos!!!

Trabalho em um escritório no bairro do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo. O local é um casarão antigo, com um muro alto na frente e um portão fechado, onde quem passa pela rua nem imagina que é um escritório. São várias salas, cozinha no qual temos refeição feita no local e edícula nos fundos para arquivos, sala de estagiários e office-boy.

Na frente, além da garagem para os carros, mantenho um pequeno jardim lateral, com um imenso pé de primavera roxa que quando floresce por inteiro é encantador, mas ele se mantém com flores o ano todo... Nos fundos temos um gramado, terminando com jardim e na lateral uma hortinha, onde temos almeirão, couve, salsa e três pezinhos de tomate cereja carregados... Mas a preferência são os dois enormes pés de ameixas muito antigo, um de cada lado que carregam de frutos acolhendo dezenas de passarinhos da região onde pelas manhãs e no entardecer fazem uma cantoria sem fim.

Eu abertamente adoro o pé de jabuticaba que não passa de 1,80m, mas que carrega tanto na época dele quanto vai oferecendo alternadamente seus frutos o ano inteiro... Ah! Quase me esqueci do pé de amora que teima em crescer descaradamente, e eu vou lhe podando sempre, pois já não existe mais tanto espaço... E em troca ele carrega tanto que seus galhos envergam pretinhos de amoras maduras...

Mas escrevo para que mais pessoas, fora os moradores da rua, saibam o quanto eu admiro duas pessoas tão especiais que moram e que zelam tanto pelo espaço comunitário de todos, como se fosse seu próprio quintal, e não medem os esforços no sol e na chuva para proporcionar o bem estar de todos os moradores desta e das ruas vizinhas.

O primeiro é um senhor oriental cabisbaixo,seu nome é Luiz e mora com sua irmã mais velha, que anda auxiliada por uma bengala. Há talvez, mais de 20 anos, dito pelos vizinhos, ele ao chegar do trabalho pega sempre a surrada vassoura, umas sacolinhas plásticas (aquelas do supermercado) a pá de lixo, e sobe até a quase avenida principal e desce varrendo a rua inteirinha, até a esquina em baixo onde ele reside. Às vezes o sol ainda é escaldante, e ele limpa o suor com os braços, mas não deixa de sorrir timidamente abaixando a cabeça para cumprimentar quem passa por ele... Com isso a rua está sempre impecavelmente limpa, mesmo tendo dezenas de pessoas que ainda jogam lixo nela ao passar e dezenas daqueles papeizinhos de propaganda que são espalhados todos os dias pelos portões e calçadas... Mas ele varre e recolhe tudo fielmente todos os dias.

O segundo é um morador também da esquina, onde termina em uma imensa praça, quase que abandonada, pois a prefeitura apenas faz a podagem das árvores e corta o mato quando cresce muito alto e só. Pois bem, ele tem apenas um dia de folga durante a semana, no qual fica embaixo do sol escaldante ou da chuva o dia inteiro arrumando e cuidando de um jardim imenso que ele fez sozinho, plantando todos os tipos de flores e folhagens que os moradores jogavam ali na esquina depois de podarem suas plantas. Ele conseguiu com este imenso jardim fazer com que ninguém mais descartasse entulhos e móveis velhos naquele local. Ele colocou cartazes dizendo que aquele local não era mais abandonado e proibia o descarte de lixo... Como ele mora em frente, virou um guardião do seu próprio jardim, embora o espaço seja muito grande e ele não dá conta de fazer melhor.

São dois exemplos de cidadãos do bem e que com seu próprio suor e sacrifício mantém o bem-estar de tantas pessoas que moram ou passam por ali, sem conhecer esta dedicação quase sobre-humana destes dois homens tão simples, mas tão gigantes de alma e de solidariedade...

Todos os dias quando chego pela manhã não deixo de notar a rua limpinha e a praça tão verdinha e cheia flores mantidas pelas mãos de dois únicos e tão simples moradores... Meu coração se enche silencioso de agradecimento, mas sempre pensando: Será que algum dia eles saberão destes agradecimentos mudos e da admiração que muitos de nós sentimos por eles e que são um grande exemplo em nossas vidas?

Walquiria
Enviado por Walquiria em 13/10/2016
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