Eu quase encontrei minha infância...

Lendo uma história sobre o Bairro da "Vila Nivi", com a Fatima Ventura me deu um aperto no coração em ver quantas coisas eu havia perdido depois que mudei daquele lugar, e que só ela poderia me contar, já que em seguida a minha mudança ela chegou por lá e ficou por muitas décadas. Queria saber sobre a Dona Madalena e seus três filhos que eram crianças ainda e que brincávamos todas as tardes naquelas ruas de terra e escondíamos nos matagais dos terrenos vazios que eram imensos espalhados pelo bairro.

Ela deve ter assistido o casamento da Regina, da Solange, do Tadeu, da Eloiza, do Luiz, da Olinda, do Osmar, da Edenir, e de tantos outros amigos de infância, todos vizinhos nesta rua que nunca se apagou das minhas recordações... Ela deve ter conhecido o Sr. Domingos da quitanda, na esquina da Rua Baltazar de Morais com a Rua Mata Redonda e todos aqueles seus filhos, dos quais os mais velhos eram meus amigos do dia a dia... Estudávamos naquela escola em que ela conta na sua história um galpão de madeira, hoje uma pequena pracinha...

Queria saber da Dona Zuila que eu dormi tantas noites na casa dela quando ela ficou viúva (pois ela não tinha filhos) e que foi uma fada madrinha para ela e sua irmã... Queria saber da Dona Manuela com os cabelos branquinhos, mas tão generosa, se os anos que se passaram depois que mudei também foram tão generosos com ela... Precisava saber se ela conheceu a casa onde morei durante toda infância e que estava apenas a um quarteirão da casa em que ela morou por tantos e tantos anos...

Dezenas de anos me perguntei se a gente ainda passando pela rua poderia ver aquele pé de abacate nos fundos da casa onde morei e que me deixou tantas saudades... Minha casa era entre a casa da Dona Amélia e a casa da Dona Elisa uma mulher muito reservada que não tinha filhos, mas tinha vários cachorros e um jardim que eu amava olhar todos os dias , em toda a volta da casa.

Mas a maior saudade foi a do Parque Infantil da Prefeitura no final da Rua Mata Redonda onde eu e minhas duas irmãs mais novas frequentamos até os seis anos de idade. Lá fui acolhida com tanto amor e carinho que nunca mais esqueci. São flashes de pequenos momentos de danças, poesias, brincadeiras e merendas deliciosas que se tatuaram em mim... "Saudades da merendeira" e "Aprendi com dona Madalena" foram umas das minhas primeiras histórias que retratam toda a minha gratidão do tempo em que morei neste bairro.

Voltei lá várias vezes depois de dezenas de anos, tentando ver apenas alguém que eu conheci na época, ou que conheceu minha mãe, mas nada... As ruas de terra tinham asfalto e os terrenos baldios viraram sobrados ou casas comerciais. O lugar onde morei virou uma vila de casas, um salão, um comércio todos colados e eu nem ao menos reconheci onde foi um dia a minha casa...dela só me restou uma foto antiga preto e branco toda manchada e sem vida que guardo como uma relíquia...

Por isso quando li a história da Fátima me enchi de esperança e pensei: agora terei alguém que possa me contar o que aconteceu com todas aquelas pessoas depois que mudei daquele bairro que me deixou tanta saudade... já que ela deu continuidade a este lugar por mais de 30 anos, mas não tive resposta dos e-mails que lhe mandei e nem do comentário em sua história. A chama de esperança se apagou e mais uma vez me encontro perdida em pensamentos tentando saber o destino de todos aqueles que moravam na Vila Nivi e que fizeram parte da minha infância inesquecível...

Walquiria
Enviado por Walquiria em 14/10/2016
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