Eu vi o Papai Noel!!!

Morava na Vila Nivi, tudo era muito rústico e pobre. Em frente a minha casa tinha um grande terreno baldio, onde os moradores da rua jogavam lixo (nesta época não existia coletores) lembro da minha mãe mandando meu irmão juntar todos os galhos secos papeis etc... e colocar fogo e eu adorava ajudar. Ficávamos em volta desta fogueira brincando de bater uma vara e levantar estrelinhas para todo lado, isso era mágico para nós.

Devia estar próximo ao fim do ano porque minha mãe nos anunciou como um anjo Gabriel que naquele Natal iríamos ver o Papai Noel. Fiquei pensativa, imaginando como ela realizaria tal mágica, pois nesta época nós não tínhamos TV e a única referência que a gente tinha eram histórias contadas por adultos que o Papai Noel vivia no Polo Norte, quase no fim do mundo, no meio da neve e só andava de trenó puxado por renas. Lembro que os dias se arrastavam, parecia uma eternidade e eu não parava de perguntar, quando seria? Quantos dias faltam? E minha mãe com muita paciência dizia: “Tá chegando falta pouco”.

Ia completar sete anos em janeiro, mas já sabia escrever e assim fui escrevendo por onde passava, com carvão, pois naquele tempo nem giz podíamos comprar, as vezes a professora nos dava um pedacinho e a gente guardava como relíquia... Escrevia no muro, nas portas e nas paredes: "Vou ver o Papai Noel". Talvez, no fundo, eu tinha medo de não conseguir vê-lo, por isso queria deixar gravado nos lugares por onde passava, achando que assim isso iria realmente acontecer!

Não lembro de muitos detalhes, mas me recordo que chegou o grande dia! Minha mãe, que era muito caprichosa, fez roupas novas para todos nós; naquela época éramos em seis, não sei como ela conseguiu, pois éramos muito pobres, mas ela dava sempre um jeitinho.

Saímos de casa bem cedo, felizes e saltitantes, mas foram horas até chegarmos ao centro. Em cima de um grande viaduto, de longe avistamos a imensa árvore de Natal, linda, colorida, cheia de luzes e bolas... e bem embaixo estava o Papai Noel, meu coração disparou... eu não sabia se podia pegar na mão dele, pois lembro da luva branquinha e eu fiquei na dúvida se era neve, porque no Polo Norte, de onde ele veio, só tinha neve...

Ele abriu aqueles imensos braços e o fotógrafo “Lamb Lamb” rapidamente arrumou eu e meus irmãos embaixo daquele abraço e “crac!”, bateu a tão sonhada e valiosa foto. Voltamos para casa, em uma viagem imensa, andamos de bonde de ônibus e a pé... Tinha bolhas no calcanhar, minha irmã caçula chorava e andava um pouco em cada colo, foi um misto de alegria e de tristeza, pois o cansaço da viagem nos abateu muito... Chegamos em casa já era noite.

Não lembro de que forma esta foto apareceu em casa algum tempo depois, nem imagino quem foi buscá-la. Soube depois de anos que o fotógrafo ficava em frente ao Mappin a espera de quem vinha para retirar as fotos, ninguém tinha e nem imaginava ter telefone e por correio não dava, pois precisava pagar. Era uma foto em branco e preto, mas era linda... Os anos se passaram... e quando minha mãe pegava uma caixa de lata que ela ganhou de sua patroa onde vinham aqueles famosos biscoitos São Luiz e que depois de vazias viravam caixa de fotos e documentos eu já me aconchegava por perto para ver todas aquelas relíquias ali guardadas. Tinha algumas fotos de nós pequenos, de batizados, de primeira comunhão, de formaturas do prézinho, do meu pai, da nossa madrinha e padrinho, da minha prima Maria Lúcia, da minha tia Idalina e algumas mais. Mas a foto que disparava meu coração, era aquela que nós tiramos "no dia em que vi o Papai Noel".

Walquiria
Enviado por Walquiria em 14/10/2016
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