Saudades e gratidão a merendeira...

Nos anos 50, morava na Rua Altenar (que hoje é a Rua Mata Redonda) no bairro da Vila Nivi. Minha saudosa mãe me matriculou com mais duas das minhas irmãs no Parque Infantil da Prefeitura, como era chamado na época. Eram aceitas crianças a partir de três anos que saiam ao completarem seis anos para entrar no primeiro ano escolar. Ficava em uma praça, alguns quarteirões de casa. Lembro que íamos de mãos dadas com o irmão mais velho e lá passávamos o dia todo

Dona Helena nossa merendeira foi uma figura inesquecível para mim. Gostaria que ela estivesse viva, para dizer quanta gratidão tenho por ela... Cada vez que eu me lembro daquela mulher sorridente olhando por cima do óculos me dá um carinho imenso...

Ao chegar todos penduravam a sacolinha vermelha feita com brim rústico, igual a do uniforme, calção fofo com elástico nas pernas, blusa branca e conga azul marinho, todos doados pela caixa escolar. O lanche matinal servido, era uma caneca de alumínio com leite e chocolate morno e um pedaço de pão com queijo e goiabada, do qual eu nunca mais esqueci o sabor... até hoje o cheiro daquele leite na canequinha e o colorido da goiabada no pão me traz encantamento ao recordar...

No final do dia, na hora de ir embora, pegávamos nossas sacolinhas penduradas em ganchos no corredor. A minha e as das minhas irmãs estavam sempre mais pesadas, olhávamos uma para a outra e sorríamos, sabíamos que o peso da sacolinha era aquela alma bondosa da Dona Helena, que embrulhava o pão, o queijo e a goiabada que sobravam cortados para levarmos para casa, ela conhecia as dificuldades da minha mãe e se preocupava conosco.

Não sei explicar a razão, mas até hoje eu adoro tudo o que leva goiabada... até hoje sinto o cheiro daquele leite achocolatado tão quentinho e saboroso... até hoje sinto uma vontade imensa em abraçar a Dona Helena e todos aqueles que me acolheram quando eu ainda era tão menina...