Lição de vida!!!

Quando criança sempre quis ser professora, o tempo passou e o sonho ficou adormecido. Foi quando li um anúncio pedindo voluntários para alfabetizar adultos. Me inscrevi, fiz a entrevista e fui aceita. Fiz um curso rápido com técnica de pré-alfabetizar um adulto em apenas três meses. Escolhi segunda, quarta e sexta-feira das 19h às 21h (terça e quinta seria outro voluntário).

Era um colégio diurno no Sacomã, próximo a uma comunidade, que emprestava suas classes à noite, para dar uma oportunidade de ler e escrever para quem nunca as teve. As turmas que completavam os três meses de aula ficavam semi ou quase alfabetizadas, e se quisessem tinha a segunda etapa com mais três meses de aulas para aperfeiçoar a escrita.

Tive alunos que me doía de ver o esforço penoso de sair tão cedo de casa, carregar apenas uma marmita para almoçar e a noite ir direto para a escola fazendo uma caminhada tão longa de volta. Mas eles tinham uma grande esperança de melhorar de vida.

Certo dia dia um aluno de mais ou menos 50 anos me disse:

“Fessôra” eu era cego e agora enxergo tudinho.

Como você se curou? Perguntei eu ingenuamente...

Fez cirurgia nos olhos?

Não “fessôra”, eu num lia nem a letra A agora saio na rua e enxergo tudinho, leio o nome da rua, do ônibus até da placa de oferta do mercadinho da minha rua eu enxergo... não preciso dizer que foi só emoção!!! me senti tão feliz quanto ele...

A cada três meses, fazíamos uma festinha, para entregar um certificado simbólico aos alunos que terminavam a primeira etapa da alfabetização Tínhamos que apresentar algo como poesia, música, dança, o que fosse mais fácil para eles apresentarem . Lembrei que quando concluí o primário apresentei uma peça de teatrinho bem curtinha, mas muito engraçada e com conteúdo de incentivo para quem aprendeu a ler, então eu os ensaiei e me diverti muito com eles, no dia do evento eles subiram no palco e receberam aplausos dos parentes, esposas, filhos e netos que lá compareceram...

Nesta época, tive a ideia de fazer alguns sorteios entre eles para dar mais alegria ao evento. Consegui de um supermercado da região jogos de panelas, eletrodomésticos, edredons, etc... Ganhei para o sorteio até uma TV doada pelo escritório onde trabalhava. E assim fiz, e foi um sucesso! A surpresa maior foi um aluno, já senhor de meia idade, que participou da peça. Ao subir no palco para pegar seu certificado, disse bem alto e de bom tom: “Meu povo, agora além de saber ler e escrever, também sou artista de teatro. Palmas para mim!”