Um anjo de Natal...

Foi tirando pó dos objetos de casa que peguei nas mãos aquele anjo amargurado , segurando uma vela nas mãos e de um olhar tão triste... Volto a tanto tempo atras quando meu irmão e minha cunhada se separaram e ela nunca mais participou dos nossos Natais em casa... Minha mãe não abria mão de reunir toda a família tão grande quanto o coração dela, e com seus nove filhos que se dobraram com os genros e noras e se multiplicaram com os netos, fazia o Natal ser tão festivo e significativo para todos...Era uma noite de alegria e paz...

Ela se aconchegava ao lado daquela árvore grandiosa que ela escolhia e enfeitava com tanto carinho e distribuía os presentes lendo os nomes de cada um e a festa era estupenda, com todos em sua volta cantando e aplaudindo cada um que ela chamava... lembro que inventávamos canções com o nome de cada um de nós e ríamos e nos abraçávamos muito como uma grande família que éramos ( e ainda somos)

Hoje são os filhos e netos que dão continuidade a esta festa e aos poucos os bisnetos vão ocupando este lugar tão mágico que é a nossa festa de Natal... Mas, voltando ao anjo que hoje apertei em minhas mãos, com tanto carinho e saudade, lembrei que este mesmo anjo fazia parte todos os anos da nossa mesa de Natal, depois que minha cunhada não estava mais lá, minha mãe dizia: Este anjo ela me deu no último ano que passou conosco e ela continua aqui através dele na nossa mesa...

E assim por muitos Natais aquele anjo tão lindo e tão triste nos fez companhia nos finais de cada ano e nestas noites tão cheia de amor... Os anos se passaram... e uma tragédia se fez presente em nossas vidas... meu sobrinho Leonardo único filho desta minha cunhada tão querida e tão lembrada por nós e pela minha mãe, se foi desta vida aos 22 anos em um trágico acidente de carro onde o mundo ruiu aos meus pés pela minha dor e em tentar imaginar o tamanho da dor que destruía tudo o que ela tinha de mais sagrado e que ela mais amava, pois este era o seu único filho...

Minha mãe já havia partido um ano antes e tenho certeza que ela estava lá em cima a espera dele, e que ele não ficou sozinho e que ela também foi antes talvez para não passar por esta dor... Depois de algum tempo eu embrulhei este anjo e fui levar até minha cunhada contando a sua história , contei que ela sempre foi representada por ele em nossos Natais... Com emoção e os olhos marejados ela o apertou em suas mãos e surpreendentemente me deu um outro igualzinho dizendo que na ocasião ela havia comprado dois deles um para a minha mãe e um para ela, e que ela também o colocava em sua mesa com um imenso carinho em todos os Natais...