Minhas oportunidades

Duas e quinze da tarde, desci em direção ao ponto de ônibus. Não sabia precisamente o horário que o ônibus passava, mas antevendo o caso da possibilidade de perdê-lo eu tinha reservado uns bons minutos entre sair de casa e meu compromisso no centro. Normalmente eu não ando de condução, mas meu carro resolveu que tiraria alguns dias de folga - nesta manhã não quis ligar nem sobre a pressão das minhas ameaças e xingamentos - então nesta tarde não tive escolha.

No ponto de ônibus que ficava a alguns quarteirões da minha casa oferecia uma sombra agradável neste dia calorento. Nele já estava utem casal de velhinhos, fiquei contente em encontra-los lá, pois significava que o ônibus ainda não teria passado, mas logo descartei este ideia, não passa somente uma linha neste ponto eles poderiam muito bem estar esperando outro, podia muito bem ter perguntado se estavam esperando o 132 ou se ele já teria passado, mas novamente eu descartei esse pensamento, que diferença faria de qualquer jeito eu teria que esperar o próximo. Também tinha um menino esperando, devia ter entre 13 e 15 anos, usava uma camisa muito grande para seu tamanho, devia ser do seu irmão, talvez ele a pegou escondido e isto causou uma briga entre os irmão, deduzi isto pela sua cara de zangado, com certeza estava chateado com alguma coisa ou é apenas aquela marra típica de adolescente aquela cara de estar sempre constipado que todo jovem faz quando está cercado de adultos. Comparando as duas teses, decidi em favor da segunda, por falta de prova ou indícios que me leva-se a crer na primeira. Usava um fone de ouvido, claro, cobria toda a sua orelha, provavelmente ficaria surdo aos 40. Resolvi pensar em outra coisa, começa a soar como minha mãe.

Neste momento uma bela jovem se aproxima, provavelmente irá passar direto, então me posiciono melhor para acompanhar sua passagem, mas não, ela para, por um momento acho que ela vai perguntar algo para o casal de senhores, mas não, ela realmente vai pegar um ônibus. Ela não esta vestida como alguém que pega ônibus, esta muito bem vestida, não que pessoas bem vestidas não peguem ônibus, mas parece que ela vai para uma festa, e quem vai para uma festa no meio do dia, geralmente não pega ônibus. Ela esta vestindo um vestido branco, o tecido parece caro, com um cinto de argola marcando sua cintura, um salto alto e uma bolsa pequena. Era uma mulher linda, daquela que só vemos na televisão, ou melhor, no cinema, tinha cara de estrangeira, nariz pequeno, olhos verdes e cabelos ruivos num estilo curto - eu sou apaixonado por mulheres de cabelo curto - não era tão jovem devia ter uns 30 anos, tinha uma certa arrogância, como se naquele ponto ela fosse a chefe, aquela que ganhava mais entre nos, e provavelmente ganhava já que nosso pequeno grupo era formado por mim, um vendedor de moveis, um casal de aposentados e um adolescente desempregado.

Tive que me concentrar em desviar o olhar de tempos em tempos para não parecer um tarado, o menino não teve a mesma ideia, estava vidrado nela. Ela não parecia se importar com olhares, estava acostumada a atraí-los, também aquele nível de beleza chama a atenção em qualquer lugar. Reparei em como ela mexia no cabelo, arrumava o vestido e com ajeitava a bolsa, tudo era gracioso, tinha uma leveza de uma dançarina que já conhecia os movimentos de tanto ensaiar, aliás, dançarina era uma profissão que combinava com ela seu corpo esquio falava que era feito para dançar, talvez modelo, se não se trabalha com isso é por que ela não quis, pois tem talento para isto. Fazia uns quinze minutos que esperava o ônibus, já tinha desistido de disfarçar, ela virou-se de costa e pude ver sua tatuagem na nuca, era apenas um pedaço dela o que, uma pena pelo que parecia então o resto estava nas costas, ela não parecia uma mulher que faria uma tatuagem, talvez uma daquelas pequenas no punho, mas não uma de costa inteira, mas como se ela se importasse, era uma mulher independente e segura de si, poderia fazer qualquer coisa. Ela virou e olhou diretamente para mim, fui desviar o olhar mais já era tarde, ela me deu um sorriso simpático e devolvi com um pequeno delay, pois meu celebro não conseguiu processar tudo rapidamente os movimentos dela, virou novamente, eu pude respirar.

Algumas ruas acima o ônibus vira a esquina, era o 132 já havia me esquecido dele. Meu cérebro se inundou com um milhão de cenários. Devia perguntar o nome dela? Seria muito estranho pedir o número dela, eu não troquei nenhuma palavra com ela. Devia esperar entrarmos no ônibus, mas se ela não pegar o mesmo ônibus que eu?

Antes de qualquer ação minha ela fez sinal para o motorista. Tudo resolvido

O menino começa a se movimentar, o casal não, sinal que eles não vão pegar este ônibus. Decidi ficar parado e ver os movimentos dela primeira, mas o motorista frustrou minhas intenções parou bem na minha frente. O menino se posicionou atrás de mim e ela depois dele, cheque mate, eu não podia deixar que eles passassem, seria muito estranho os deixar passar e depois sentar no mesmo banco que ela, pareceria premeditado, devia ser mais casual. Subi paguei minha passagem e procurei um banco. O ônibus estava vazio, apenas mais umas cincos pessoas espalhadas por ele, o que era ruim, existe poucas situações que um ônibus vazio é ruim, na verdade não existe nenhuma apenas esta, quando se quer que uma garota sente ao seu lado mas ela tem muitas opções. Sentei nesses bancos duplos mais altos. O menino sentou mais a frente. Ela veio caminhando, e neste momento tive certeza que ela era modelo, cada passo era preciso. Era isso, agora era a hora, o destino iria decidir, já ensaiava todas as minhas melhores abordagens, como um bom vendedor, mas não, ela passou direto sentou num banco na parte de trás. Minha abordagem desmoronou, precisava de tempo para remontar minha estratégia. Talvez eu deva simplesmente levantar e ir lá, puxar um papo, que idiotice, ela não é uma mulher que gosta de ser incomodada, ela faz o tipo chefe que sempre só aceita um comentário ou um elogio -que era minha intenção- quando solicitava, o que nesse caso queria sugeria que ela não queria assunto comigo, ou talvez ela só esperasse que eu tomasse atitude, ela sorriu para mim, afinal ela é a mulher mais bonita da balada e espera que os homens paguem bebida para ela.

Enquanto o ônibus serpenteava pelas ruas da cidade e eu aproximo do meu destino, meu tempo diminui, e minhas estratégias mudam conforme o relógio anda. Decidi tomar uma atitude, não perderia esta oportunidade. Neste momento paramos e sobe um grupo de pessoas, e entre elas uma me chamou minha atenção, não movia tanto os holofotes como a primeira, mas era beleza singular. Parecia mais nova, tinha a pele morena olhos negros cabelos cacheados - como eu gosto de mulheres de cabelo cacheado - pagou a passagem, caminhou procurando um lugar e sentou ao meu lado, olhei ao redor e ainda havia assentos desocupados, o que quer dizer que ela preferiu sentar ai meu lado que sozinha, era um sinal. Estava perto do meu destino mais como tinha saído cedo para o meu compromisso decidi perder o ponto e descer quando o ônibus estivesse fazendo o retorno, decisão feita agora era hora de reorganizar as ideias definir as estratégias, porque desta vez não perderia esta oportunidade.

Filipe Cruz
Enviado por Filipe Cruz em 12/01/2017
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