5:30

5:30. O despertador toca. Você acorda do sono profundo. Tão profundo que sente que adormeceu há pouquíssimo tempo. Quer acreditar que sejam apenas duas da madrugada. Então recorda que acordou justamente porque o despertador tocou. Você não tem despertador programado para as duas da manhã. São realmente 5:30. Café. Escova de dentes. Escova de cabelo. Céu escuro de um dia que está apenas começando a nascer. Olhos inchados com os quais você trava uma luta para que parem de insistir em se fecharem sozinhos. Ônibus. Troca de ônibus. Caminhada. Trabalho. Mil e um devaneios sobre dizer a palavra mágica “demito-me!” e sair andando livre e leve. Aí você se recorda dos boletos. Das contas. Foco. “Mas e se...”. “Mas eu gostaria tanto...”. “Não sei o que quero.”. “Não consigo me decidir.”. “Não aguento e não posso mais continuar aqui... Mas para onde eu vou?!”. Quase cai de sono no meio da manhã. Lava o rosto. Mais café. Almoço. Você não resiste e come aquela pizza doce ou aquela fritura porque afinal você aguanta tanta amargura que a ideia de ter um almoço amargo também é inconcebível. E depois você se culpa. Porque o corpo que tanto almeja está cada vez mais distante. E então promete que foi a última vez. Volta ao trabalho. Mais uma dose de devaneios. “Preciso da experiência.” “Preciso disso no currículo.”. “Para onde posso ir depois?”. Olha o relógio. 13:05. Passa uma eternidade. Olha o relógio novamente. 13:07. Como se estivesse em câmera lenta, passa a tarde. Rodoviária. Espera. Ônibus. Casa. Sofá. Séries. Mais pizza (mas, assim como no almoço, é a última vez). As 23:00 horas chegam na velocidade da luz. Cama. 5:30. “Mas já?!”. Repete.

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Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 13/01/2017
Reeditado em 16/01/2017
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