Vaso quebrado...

Ficava ali bem no meio da casa e me sentindo rodeada de mimos e alegrias constantes... eu brilhava com o nascer do sol e me enchia de estrelas ao anoitecer... sempre haviam flores em mim... as vezes rosas as vezes jasmins , margaridas, flor do campo... até orquídeas já estiveram me rodeando, mas depois de muito tempo os cactos começaram a ser plantados naquela terra seca e quase sem vida...

Depois de tantos anos sendo aquele vaso tão colorido onde tudo eram flores, eu acabei ficando rodeada de pragas e ervas daninhas, e as formigas foram tomando conta de tudo e elas insistiam em me expulsar dali, a cada semana um pouco mais...

Fui enfraquecendo e perdendo a vontade de enraizar novamente e sobreviver... desisti!!! tomei a decisão de sair do vaso e conhecer o quintal lá fora...decidi sair do mesmo lugar e caminhar em volta do lugar onde eu sempre estive plantada... quando saí para o jardim, vi que existia um mundo inteiro lá fora além daquele espaço restrito onde eu me encontrava...

Saí em desespero para o asfalto, para a selva de pedra e para a vida... mesmo caminhando longe, sempre estive por perto caso você precisasse... fiquei rodeando o meu vaso como se a chuva pudesse me alcançar e me fizesse brotar outra vez, mas nada disso aconteceu e eu estava longe e deslumbrada em rever todo aquele mundo lá fora cheio de flores diferentes e cheiros diferentes, mas também cercado de espinhos...

Aquele vaso se espatifou no tempo e voaram tantos pedacinhos que nenhum de nós nunca mais conseguimos juntá los... a partir daí eu nunca mais fui uma flor, me sentia um cacto resistente a qualquer intempérie da vida cheias de espinhos e eu pronta para me defender pois também tinha os meus... Foi um amor no qual eu achava inabalável, mas depois de décadas e de tantos desentendimentos este amor se abalou e se acabou...

Agora nós nos tratamos com respeito, mas sempre me lembro do vaso quebrado tantas vezes e tantas vezes remendado onde ficaram fissuras e buracos visíveis em todo ele sem que tivesse mais nenhum concerto... agora que tantos anos se passaram, sinto que o vaso ficou ali na prateleira daquela casa imensa como um troféu intocável e sem vida, mas que um dia ele foi a vida colorida daquela mesma casa...