:: Um Domingo Diferente ::
Era um dia comum, comum no sentido rotineiro, a rua principal que é a linha do ônibus, a cena parece se repetir, são sempre os mesmos embaixo de uma árvore, na calçada com a garrafa de Vila Velha, nesse calor a aguardente deixa louco rápido, mas muito deles com alguns goles já ficam daquele jeito. A sensação às vezes que os domingos são um ciclo plano, tirando os domingos de eleição.
Meu vizinho é um da gangue do corotinho, quase sempre, desce a rua no zigue-zague. E hoje não foi diferente, cada semana é um hematoma novo. O cara transpira álcool. Sua esposa, dona Camélia, faz de tudo para complementar a renda, vende doces, calcinhas, latinhas, cigarros, cuida de crianças – detalhe, Dona Carmélia está cuidado de uma criança, na qual, a mãe vem pra casa de 15 e 15 dias.
Ele quer cigarro. Ele não tem dinheiro por cigarro. Ele pede cigarro, ela não dá, já foram inúmeros cigarros, praticamente sustenta seu vício. Ele insiste. Ele é chato. Ele vencer pela chatice, todo dia é a mesma ladainha, diz que depois dá o dinheiro, esse depois nunca chega. Ela acaba dando para ter um pouco de sossego. A vizinhança se pergunta “o que ela viu nesse bebum”, “no começo foi amor, mas hoje é dó mesmo” ela fala ao se questionada.
É comum, virou comum, nos anos de eleição, políticos fazem seus pré-comícios disfarçado de festinha para as crianças. Um domingo diferente, de festividade, trazem pula pula, palhaços, touro mecânico, vários brinquedos, sorteiam bicicletas e até geladeira. Seu esposo diz que vai ganhar a bicicleta e a criança está perturbando, querendo ir nos brinquedos, já são 3 da tarde e ela ainda não fez o almoço. Ela permitiu que o menino vá junto.
O frango não havia sido cozido ainda quando o esposo chegou, bêbado, sem o menino, deixou a criança na fila do touro mecânico para participar do bingo da bicicleta e quando voltou não tava mais lá. Bateu o desespero nela, o que iria dizer pra mãe do menino. Deixou as panelas no fogo e correu desesperadamente.
Tantas coisas ruins passaram pela sua cabeça, deixando ela mais desesperada, e se alguém a levou-o embora como iria dar essa noticia pra mãe pelo celular, “maldito cachaceiro” pensou ela.
Muita gente no evento, muita crianças, quem ela conhecia pelo caminho já perguntava se tinha visto o menino, foi pra lá foi pra cá e nada, “onde foi para esse moleque” falava sozinha, também rezava sozinha. Quando olha para fila do pula pula lá estava ele, com mó cara de ansiedade.