As raparigueiras

"O que faz um cara pensar que só porque comeu suas três amigas vai comer você também? Bem, não é uma necessidade lógica, certo? Tipo só porque andávamos juntas, frequentávamos os mesmos lugares e tínhamos os mesmos gostos, e o cara chegou passando a mão em mim sendo que eu nem pedi para ele me beijar e sim ele que me beijou só porque sentei no colo dele..."

De fato a mensagem que recebera não era das mais animadoras. Seus olhos sangraram. Renata suspirou fundo, olhando para o teto. Abandonou o celular atrás do travesseiro, desligado. Todas aquelas cenas envolvendo Marina e Edgar passaram pela sua cabeça e agora pareciam aves negras a construir ninhos em seus cabelos. Haveria ainda algo que não fora dito? Suspirou outra vez, com o rosto contra o colchão. Para o seu desapontamento, as coisas não tinham saído conforme combinaram na semana anterior. "Você deveria ter dado o fora nele!", pensou em responder, mas seus dedos hesitaram. Tremulavam, como num pequeno terremoto. Temia tanto a confissão do "crime" por parte da ré quanto a retribuída acusação, que pareciam inevitáveis. "Como você também deveria ter feito, senhorita perfeitinha?", seria a resposta não só pronta como presa ao dedo no gatilho, carregada de toda a crueldade do mundo. Outrora unidas, agora ambas tinham pedras nas mãos e morreriam numa cerimônia de apedrejamento mútuo.

"Até tu, Marina, que não é raparigueira que nem eu?"

"Errar é humano", diria Marina. "Eu sou humana!".

"E raparigueira também, Marina! Você é raparigueira também!"

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