Coletivo

As vezes me dá uma vontade súbita de escrever, expor o que eu sinto, o que vejo de fato, para que os que leem possam sentir o mesmo. Nem sempre consigo com clareza descrever tais sentimentos. Me perco nas várias ideias que se misturam em minha consciência e quase toda vez desisto de concluir a redação. Ainda tenho que me acostumar com a ideia de que o que eu realmente sinto, jamais poderei transpassar para o público se ele mesmo não os tem. Assim como se deseja água quando se está com sede, necessita-se do querer para compreender os sentimentos de alguém. Hoje, decidi dar tudo de mais precioso que tenho, a escrita, para contar sobre uma experiência única que tive em um dos momentos mais corriqueiros de minha vida.

Mais um dia, lá estava eu, embarcando no transporte público para mais um passeio pela cidade até chegar ao meu destino. Estava lotado, com um cheiro não muito agradável que ilustrava claramente o drama de quem estava voltando do trabalho ou da escola depois de uma jornada exaustiva. Comecei a andar pelo estreito corredor do automóvel tentando achar um lugar para que pelo menos eu conseguisse me segurar e não me debruçar em alguém caso passássemos por uma enorme lombada, como sempre acontece.

Me encostei na janela segurando a mochila entre as pernas e pedindo aos céus para que o motorista não freasse bruscamente, comecei a olhar aquela gente ao meu redor. Eu sempre fiz isso, afinal, reparar os outros é o que mais fazemos de melhor. Mas dessa vez foi diferente. Por uma vez dentre todas as outras, eu me senti interessada em saber qual história cada uma daquelas pessoas carregava. Quis conhece-las profundamente a ponto de saber sobre seus parentes, sonhos e frustações. Não as julguei por suas expressões de cansaço ou qualquer outra e não desejei que eu chegasse logo ao meu ponto de parada só para que pudesse imaginar como seria a vida delas.

Olhei nos olhos de cada um. E o que eu vi foi tão incrível que só uma frase descreve perfeitamente: A singularidade do ser. Homens, mulheres, crianças, adolescentes e idosos. Cada qual com suas características. Para saciar minha vontade de ir até cada um e perguntar sobre suas experiências, olhei o céu pela janela e em vez de aliviar a curiosidade, aumentei-a, pois eu também não sabia dizer o que tem por trás do azul cintilante do céu. Além das diversas teorias acerca do assunto, nada se sabe praticamente. Sob o sol quente do horário de verão, as 18:00 da noite, as pessoas perambulavam pelas ruas da cidade com tamanha velocidade que nem se quer me perceberam. E imaginem só, se elas não viram a mim que estava a poucos metros, com certeza não olhariam para o céu a ponto de ver que haviam nuvens com formato de sorrisos largos.

A cada ponto de ônibus, pessoas entravam e saiam do automóvel. Vendo que meu destino se aproximava, tentei preparar uma conclusão para tudo o que tinha observado durante os 25 minutos mais reflexivos do meu dia. E quer saber? Não consegui. Apenas desci do ônibus e acabei de chegar em casa.

No outro dia, acordei mal. Muito mal. Senti imensa falta dos meus parentes e amigos que já haviam partido desse mundo espiritual e meu coração se apertava a cada vez que pensava nisso. Uma voz dentro de mim surgiu imediatamente e disse “Olhe para o céu todas as vezes que se sentir desconsolada”. Foi aí que percebi que as nuvens em forma de sorrisos largos do dia anterior eram para mim, por isso ninguém mais as viu. E a conclusão que eu precisava era exatamente essa: As mais belas e simples coisas da vida só poderão ser vistas por quem sabe valorizá-las.