Minha Lembrança, Meu Presente

Você se lembra irmão de quanto éramos iguais?

As pessoas nos olhava de mão dadas com a mamãe e após aquele mesmo comentário de sempre questionavam: Que lindos! São gêmeos? E não éramos. Mas mamãe gostava de nos vestir como se fossemos. Depois, anos à frente, fui entender que mamãe fazia isto pois não queria nenhuma diferença entre nós. Era uma boa intenção, hei de confessar.

Apesar de todo o esforço da mamãe as coisas não foram como nós esperávamos. Pelo nosso jeito de ser estava bem claro que de nada, a não ser em nossa genética, éramos tão iguais assim.

As escolhas definiram nossos caminhos.

Bom, você se lembra irmão de quantas e quantas vezes brigávamos?

Papai não tinha muita paciência, todos nós sabíamos. Não demorou muito que nos deixasse. Uma difícil perda, um turbulento divórcio que finalmente superamos. As coisas não deveriam ser assim! Ou, deveria? Não sei bem. Mas sinto falta de não ter de observar o quão duro são as coisas.

Complicado entender que fazemos com que seja desta forma.

Nós também podemos mudar.

Você se lembra irmão de quando nos atirávamos rua afora atrás das pipas nas férias de verão?

Mamãe não gostava que ficássemos muito na rua, pela preocupação, eu entendo. No fundo ela estava certa, afinal arrumávamos muita confusão com esse negócio de pipa. Sem contar o futebol no meio da rua com os vizinhos, o pique-pega ou o pique-esconde até tarde da noite.

Me lembro bem de quando você quebrou o braço pela primeira vez.

Como chorava rapaz! Tá bom! Perdoa-me. Falo assim pois nunca quebrei alguma coisa que não fossem; os pratos e os copos. Ah! E as xícaras da mamãe também. Isto sim. Eu fiz e muito!

Você se lembra irmão?

Mamãe brigava e eu não entendia. Ora era só um copo, ou um prato. Nenhum mal nisso eu via. Mas ela era muito organizada isso eu percebia.

Ah irmão, e quando íamos para a casa da vovó? Que saudade!

A vovó adorava fazer angu no almoço e com ela aprendi a comer. Que delícia era com a couve que ela fazia. Um belo par de comida.

Irmão, ser criança só mais um dia. Como eu queria!

Você se lembra irmão de quando rezávamos?

Nossa fé era incontrolável. Permanecíamos ajoelhados. E os anjos sempre sorriam.

A verdade é que os anjos iam embora, toda vez que apagávamos a luz, toda vez que dizíamos Amém!

Sabe irmão chegou um dia em que simplesmente crescemos...

E ao observar tudo isto, não tem como negar que carrego comigo o melhor presente. Não é aquele do qual costumávamos a ganhar quando éramos crianças, irmão. Pois aquele, não existe mais. E se existe já não tem tanta importância.

Este presente vive para sempre.

Acredito que nossa memória nunca morre. Ela nunca descansa.

No mais irmão; eu só agradeço que faça parte de minha lembrança.

Meu querido irmão, agora; me dê mais uma xícara de café, por favor, pois já vou embora!

Ficou tarde e o ônibus lá vem, ta na hora.

Thiago Salvador
Enviado por Thiago Salvador em 05/03/2017
Código do texto: T5931323
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