Um conto futurista

Ano 3986, Oxfart.

Disse-me o derradeiro sábio do deserto de Ugad que o universo começou após um espirro vigoroso e despretensioso. Em meio a muitos outros, formou-se o nosso sistema solar. O homem deu seus primeiros passos e logo se desgarrou do plano celestial, mas foi recolocado nos trilhos para novamente se desgarrar; e o Criador se surpreendeu tanto quanto da primeira vez com a queda humana. Uma pequena parcela de sua Criação, que permanecera fiel no paraíso, se surpreendeu ainda mais.

No céu, apreensão; embaixo, balbúrdia. A humanidade havia sido rebaixada, como Lúcifer, que agora era banhado a todo instante pelas chamas do inferno e ria-se com dores, embora temesse um rival à altura.

"Como?", perguntou o Filho ao Pai, com perplexidade.

"Livre-arbítrio", foi a resposta.

"Mas e a promessa de eterna felicidade?", parecia questionar-se o Messias, torcendo as mãos vazadas. Gostaria de ter mais um par de mãos!

O Pai fitava o mundo da sacada celestial. Franzia a testa, o olhar perdido, a boca cerrada.

"O que irá fazer, Senhor?", perguntou-lhe um anjo com ar de mordomo.

"Não sei", Deus respondeu após uma pausa.

"Não sabe? Como não sabe?", tornou o anjo, arqueando as sobrancelhas louras.

Deus lhe devolveu um sorriso pouco convincente. Não era a primeira vez que Ele tinha que explicar isso. Suspirou fundo e disse, enfático:

"Meu poder é inimaginável, faço coisas inimagináveis. Como acha que vou saber?'

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