Uma velhinha de quinze anos

Parada na porta da cozinha, ela olhava para Maria e Maria olhava para ela...

Luiz também a olhava e então diz para Maria:

-Ela está precisando de cuidados. Ela não está bem. Ela tossiu grande parte da noite.

-Sim. Eu também ouvi. Mas agora ela não está tossindo, só está um pouco inchada. Preciso dar um diurético para ela. É que ela continua comendo a comida da Sophia(a gata). Pensei até em mudar a comida de Sophia de lugar, colocar no alto, sei lá, pois sei que se ela continuar assim não adianta nada cuidar. Ela não entende e entra escondido para roubar a comida que não é a dela. O potinho de ração dela continua cheio.

Depois de conversar com o marido durante alguns minutos, Maria se esquece de Pandora e ela sai do campo de visão deles. (Pandora é a cadelinha pinscher).

Era horário de almoço de Maria. Na hora que Maria sobe as escadas que a levam até o portão da casa, ela se depara com uma terrível cena:

- Pandora está caída no chão com os olhos abertos e acinzentados! Maria percebe no mesmo instante que Pandora está morta. Como pôde???

Minutos antes ela estava viva e a olhando na soleira da porta. Então teria sido uma despedida? Ela esperou que Maria fosse almoçar?

No pensamento de Maria vieram num turbilhão TODAS as lembranças da cadelinha desde o momento em que ela a levara para casa, até aquele dia (minutos antes).

Ela era “herança” da sogra, vivera com a sogra por oitos anos e estava com Maria há sete. Quinze anos!!!Se fosse um ser humano (uma menina) estaria debutando: sendo apresentada a sociedade, mas sendo um animalzinho, era uma velhinha, uma amorosa velhinha que cumprira lindamente seu tempo na terra. Mas como não chorar?

Maria chorou! Não mais teria aquela velhinha de quinze anos lhe esperando no portão, ou a olhando da porta da cozinha e se "torcendo" inteira quando recebia um carinho, ela até parecia sorrir, era linda!

Fizera por ela TUDO que se pode fazer por um animalzinho, mas agora sentia que um vazio iria ficar em sua vida, mas haveria para sempre um lugarzinho reservado no fundo do coração de Maria, pois agora, Pandora certamente havia ido morar no céu dos animais.