Prosas Metalúrgicas II: Os Curiosos...

A todos os meus admiráveis leitores e amigos METALÚRGICOS aqui postarei meus SETE CONTOS, um por dia, retratando sua vida laboral e assaz comunicativa e divertida ao longo das linhas produtivas automobilísticas e valorosas terceirizadas...

Contos estes, que os escrevi quando da minha orgulhosa participação na Robert Bosch Curitiba.

Abraços,

Armeniz Müller.

...Oarrazoadorpoético.

Então, por favor, clique aqui e leiamos o SEGUNDO deles...

Prosas Metalúrgicas II: Os curiosos!...

Poetinha Armeniz Müller.

...O arrazoador poético.

Bem mais que em qualquer outro lugar, é no local de trabalho que mais se viaja no pensamento...

...Mas ali naquela linha de produção, tal constatação tornava-se o óbvio ululante, pois bastava observar o semblante "de paisagem" dos esforçados e aplicados metalúrgicos, enquanto suavam a gandola ao executarem as mais intrincadas operações que o produto sofria, no transcurso do processo produtivo local naquela linha que desenvolvia, sem dúvidas, um dos mais sofisticados grupos de peças automotivas na época em que um tantinho ali trabalhei e muito mais me dediquei a bisbilhotar e registrar o pitoresco e laborioso cotidiano dessa categoria profissional que tanto se destaca no cenário produtivo nacional, em virtude do seu permanente processo de aprimoramento técnico e profissional, aliado ao fortíssimo corporativismo dessa respeitável classe trabalhadora.

O ambiente de trabalho atua no entusiasmo ou no derrotismo funcional assim como o adubo, a água, a luz do sol e o carinho do jardineiro, juntos, têm a capacidade de promover o maravilhoso milagre visual nos jardins da vida...

Eu, por mim, nem parecia estar trabalhando ali, tal a minha satisfação em integrar aquele time de trabalho. Longe de bagunça largada, o ambiente era de alegria e de cooperação. Tanto que nem mesmo a dificuldade dos mais diferentes idiomas que ali se encontravam, representava qualquer tipo de barreira para o entrosamento técnico e humano.

Como sempre, eu mantinha um olho bem aberto no conjunto de microscópios e congêneres visuais que formavam a minha bancada de exames, e o outro, que dúvida, o outro olho, mesmo contra a minha vontade, insistia por que insistia em ficar beeeeem mais aberto no “controle” do movimento da peonada... Aliás, aqui confesso que costumeiramente eu burlava as normas de segurança no quesito proteção auditiva, e deixava um dos tampões meio solto na orelha, para assim poder manter também um dos ouvidos atentos e direcionados ao intenso nhém-nhém-nhém, dói-dói-dóis, mas-que-tal-isso e vocês-sabem-da-última?... naquele barracão que por certo fazia inveja a muitas vizinhas alcoviteiras e fofoqueiras das janelas dos tradicionais cortiços da vasta periferia brasileira.

Pouco tempo se passara do início do turno de trabalho e já caía o primeiro peixe na minha rede...

Acertou quem pensou no Zé Encrenca.

- He, poetinha feliz! Tire uma dúvida aqui da minha cachola... Você é mesmo um poetinha feliz, ou esse apelido é coisa da empresa que te protege e mais mete fogo no teu rabicho pra você escrever sobre a gente, aqui?

...Vixe, minha santinha habladora! O assunto do Zé Encrenqueiro é comigo, hoje...

- Fique de boa, Zé Encrenca! Na verdade esse meu apelido poetinha feliz é um bom marketing criado para promover a minha imagem local, só isso.

- Chiiii... Não se pode provocar que o danado já vem co'essas palavras difícil, difícil, tô dizendo... Quequéisso, então?

- Ora, ora, ora, Zé Encrenca! Como você bem sabe, o meu pseudônimo é Armeniz. Logo, foi muito fácil e de boa lembrança para os leitores, a criação da expressão semântica "Armeniz, o poetinha feliz". Concorda?

- Tá certo. Se é você quem diz... Mas como é que eu posso concordar com uma coisa que não consigo entender, poetinha? Pois, veja bem, a pessoa pra sê feliz hoje em dia, carece de tê muito dinheiro e pouco trabalho, concorda comigo agora, bichão inteligente? Saia dessa sinuca de bico, agora...

- Não se apoquente, meu amigo! Ser feliz é um estado de espírito. No meu caso específico, o fato de trabalhar aqui com vocês todos é motivo de felicidade, sim. Por que não seria?

- Eu, hein. Um sujeitinho letrado desse jeito, de bons modos, meio bonitinho, bem falante e queridinho dos graúdos lá da diretoria, mais a comunicação e o serviço social, ficar trabalhando aqui no meio dos “oreias-secas”, feito nóis... Eu, hein, poetinha? Vai, vai... Confessa qual é a tua, seu espertinho diuma figa!

- Calma, calma, companheiro! O fato é que eu não sou apenas metalúrgico aqui, Zé Encrenca! Na verdade, eu realmente tiro de letra esta minha confortável função de examinador de peças, aqui, e no tempo que então me resta dentro do turno de trabalho, eu posso fazer aquilo que mais me faz feliz, enquanto me mantém sempre bem motivado e contribui decisivamente para o meu bom desempenho funcional, como você mesmo bem vê. Aliás, você sabe o que quer dizer essa pejorativa expressão, orelhas-secas?

-Imagine se posso saber, poetinha. O meu fato é que fico tonto só de te ouvir falar tanta coisa diferente, que nem sei mais o que é que eu ia fazer quando parei aqui prum dedinho de prosa com você... Mas diga lá, então, o que é oreia-seca procê, poetinha feliz?

- Então, companheiro Zé! A expressão “orelhas-secas” nasceu para identificar aqueles operários desatentos e burraldinhos mesmo, os que quase nunca entendem o que os seus chefes querem dizer quando chamam a sua atenção... E quando entendem um pouquinho que seja, não mostram a menor vontade de obedecer e assim contribuir para o bom desempenho da equipe; embora todos sejam maravilhosíssimamente CURIOSOS!... Entendeu bem o que eu acabei de dizer, Zé Encrenca?

- CURIOSO, EU?... Vápraputaquiupariu, poetinha!... Com todo o necessário e devido respeito quiumcaraversaduiprosadocomoocê merece... Ocê sabe que isso tudo é difícil, muito difícil pra mim... É como aquela do portuga que acaba de ver a altura do prédio e fala pro vizinho: édifício!... Poetinha, que tal se nóis fica por aqui, hoje? Mas não se dê por vencedor, que depois da janta eu te pego! Ah, se eu te pego, sujeitinho esperto. Inda mais se o Carlão me dé uma mãozinha, ocê que me espere, espertinho diuma figa.

- Tchau, companheiro Zé Encrenca, bom apetite! Ah, só pra lembrar... A minha cota de produção está rigorosamente em dia. E a sua, também está em dia?

- Mas quequéisso, agora... Cota de produção, poetinha? Ah, isso é coisa da cabeça dos teus parceirinhos lá da diretoria da fábrica. Só pudera de sê... Tô sabendo. Boa janta procê também. Fui.

Vendo-o sair apressado na direção do refeitório, fiquei a refletir nas palavras do folclórico companheiro de labuta e concluí que as palavras sábias também saem da boca dos menos "letrados", assim como aquela quase sempre não bem aceita e comprendida criatura...

Assim transcorreu satisfatoriamente mais um dos nossos muitos pitorescos e gratificantes diálogos fabris, naquela pujante linha de produção metalúrgica automotiva.

Não se avexem, amigos leitores do cotidiano laborioso,

que amanhã tem mais, beeeem mais...

Heheheaiaiaiaiaiiii...

Grato,

Acir Niz

O

Poetinha Armeniz Müller.

Ou, como os companheiros metalúrgicos dizem...

Armeniz.

...Opoetinhafeliz.