RECORDAÇÕES DAS MANHÃS CHUVOSAS DE MAIO

Eram chuvas naquelas manhãs de maio.

Os dias amanheciam frios e neblinados.

Da janela de duas folhas do lado de cima da casa, mal dava para ver o ingazeiro carregado de bajes maduras de ingás.

Nos fios de arames farpados iam formando gotículas de água e lentamente ia se dissolvendo e caindo ao chão e nessa cadência iam formando outras.

Os capins ao redor de casa, onde o cavalo Biliu e a mula Gaita passavam os dias pastando, estavam encharcados pela chuva fina que caíam silenciosamente naquelas manhãs chuvosas de maio.

As folhas do canavial molhado ficavam balançando de um lado para outro de forma concatenada e serena.

O gado encolhido e unido debaixo de uma árvore frondosa de “fruta cavalo”, apenas ruminava o alimento que há tempo tinha ingerido.

As aves domésticas aproveitavam para organizar suas penas dentro do rancho do carro de boi que ficava ao lado do paiol. Com exceção dos patos que mais pareciam estar num parque de diversão, pois para todos os lados só continha poças de água para eles fuçarem com os bicos serrilhados.

A Xita, uma gata de três cores, manhosa e bonita, dormia na taipa do velho fogão de lenha aquecido pelos tições em brasa que lá permaneciam.

Os cães vira-latas ficavam encolhidos debaixo do bancão de madeira maciça na área da porta de uma tábua só que dava acesso à cozinha.

Tudo parecia um retiro, um silêncio gostoso e frio misturado com o som baixo do rádio de pilha e da máquina de costura de mamãe.

De vez em quando, um trovão grave e lento, que papai chamava de “trovão gordo”, ressoava em meio aquela densa serração.

Eu ficava com minha jaqueta grossa de algodão e com os cotovelos na soleira da janela, observando tudo o que se passava por entre aquela chuva fina e rasteira naquelas estupendas manhãs.

Hoje ao relatar esses dias que tão longe ficaram, deu uma saudade!

Hoje estamos numa manhã chuvosa de maio.

Inspiração misturada com lembrança que virou saudade.

É isso aí!

Acácio Nunes