A cama

- Segura esse elevador!

- Opa! É o senhor, Sêo Carlos? Está chegando tarde do trabalho hoje... Como foi o seu dia?

- Ôra, meu! Como foi o meu dia?! Nem me fale!! Putz, hoje de manhã minha mulher acordou com uma fula dor nas costas, né, meu. “É a pemba desse colchão que me dói as costa. Tem que trocar essa cama. Eu falei que tinha que ser colchão de mola, mas você quis comprar o mais barato. Aí tu comprou o de espuma. ´Tô falando há duas semanas que esse colchão ´tá me matando. Hoje à noite eu durmo na minha mãe, e vou dormir na mamãe até tu criar vergonha na cara e comprar a pemba de uma cama de mola”. Aí a mulher saiu pro trabalho já com uma mala pra dormir na mãe. Aí já fiquei fulo. Tinha que comprar uma cama nova. Saí pro trabalho e esperei dar a hora do almoço, e que já é curta, mas tinha que comprar a cama pra mulher. Almocei um pastel e fui atrás do colchão. Ainda bem que trabalho no centro. Fui numa loja que tinha o maldito do colchão. Entrega hoje na minha casa? Entrega. Pô, eu chego depois das seis. O entregador trabalha até às sete. Então entrega lá pelas sete. Quanto é que custa? Custa novecentos e trinta reais. Ôra, meu! Novecentas pilas por uma pemba de colchão de mola! Vou ver em outra loja. Mas aquela era a mais barata. Voltei pra loja. Vou comprar essa cama, né, meu. Fazer o quê. Aceita Visa? Aceita. Então vou passar o cartão. Fui no caixa. “Digita a senha”. Digitei a senha. “Não ´tá aceitando”. Como não ´tá aceitando, pombas! Tô com dinheiro na conta! “Digita de novo”. Digitei. “O sistema ´tá bloqueando”. Que pomba é essa de bloquear? “Vou verificar”. Verificou. O limite de débito de compra no Visa por dia é de seiscentos reais. Pô! Limite de débito, meu! O banco não limita meu depósito vai limitar meu débito, caramba! “Então o senhor faz um cheque”. Ôra, meu, não trouxe folha de cheque. Saí da loja fulo da cara. Agora vou ter que sacar a pemba do dinheiro pra pagar em nota. Liguei pro trabalho e avisei o chefe que ia atrasar. No caminho do banco pensei: Pô, só de sacanagem não vou sacar do banco do cartão, vou sacar no outro banco que eu tenho conta também. Fui no caixa, mandei tirar mil reais. Aviso na tela: “Limite de quinhentos reais”. Vai tomar banho, meu! Que limite é o escambal. Aí saquei quinhentos mesmo, já que eu ´tô aqui, pensei. Saquei os quinhentos. Agora tenho que ir no banco do Visa para inteirar os novecentos, cacete! Fui no outro banco. Saquei quatrocentos. Voltei pra loja, que ficava a três quarteirões do banco. Quando eu estava na porta da loja, lembrei: Putz, não é novecentos redondo, é novecentos e trinta! Ôra, meu, que que eu tenho aqui na carteira? Tenho vinte reais. Pombas, meu! ´Tá faltando dez! Não vou voltar pro banco que ´tá longe. Tem o shopping lá perto. Fui pro shopping. Saquei mais dinheiro. Quando abri a carteira, achei uma maldita folha de cheque! Agora eu não vou dar o cheque porque já saquei o dinheiro. Voltei na loja. Paguei os raios dos novecentos e trinta contos e fui trabalhar. Voltei pro trabalho. O chefe já avisou: “Vai ter que ficar mais meia hora pra compensar o atraso do almoço. Ôra, meu. Fiquei, né. Agora ´tô chegando em casa a essa hora, e ainda tenho que esperar o caramba do entregador chegar com a cama pra avisar minha mulher pra ela voltar pra casa, né, meu.

- Ô, sêo Carlos, agora me lembrei. Veio um entregador trazer a cama faz cinco minutos. Interfonou, interfonou. Ninguém atendeu, e aí ele foi embora. Ficou bravo e mandou avisar que agora só pode entregar depois de amanhã. Chegou meu andar. Boa noite.

Vitor Pereira Jr
Enviado por Vitor Pereira Jr em 09/08/2007
Reeditado em 14/08/2007
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