O MARAVILHOSO MUNDO DO CONSUMO-VOZES ALIENANTES

Um homem, um ser humano comum, um simples mortal que caminha pelas ruas da metrópole numa manhã ensolarada. Um consumista inveterado, que como todos nós, assim se tornou devido a uma repetição mecânica, que foi se fixando em nossas mentes pela insistência da aplicação de costumes de acumulação dos supérfluos. Costumes esses, que aprendemos ainda na infância, pois todos nós já desejamos ter um brinquedo, ou um jogo qualquer de última geração para sentirmo-nos incluídos; para sentirmos melhores e nos destacarmos dos demais. Enfim, todos nós em algum momento desejamos ser o totem principal de determinado grupo pelo ter.

Este homem comum caminha até o ponto de ônibus, que o levará a um passeio pelos templos do consumo. Logo nos primeiros passos na calçada de sua rua, ele se depara com um belo, colorido e vistoso outdoor que dizia: “Ande na moda, seja descolado! Use o jeans que te fará o centro das atenções”.

No ponto de ônibus, ele é bombardeado por alto-falantes, por placas, por camisetas, por panfletos e por vários tipos de anúncios. Todos dizendo: “COMPRE, USE, CONSUMA!”

Já dentro do veículo coletivo o caminhante observa as pessoas ali presentes. Algumas com o semblante cansado parecendo refletir sobre algo longínquo e abstrato, outras riem para uma tela retangular na palma das mãos, outras se concentram numa conversa com alguém distante, e de certa forma, todos ali contemplam certo grau de solidão. O homem começa a olhar a paisagem que fugia velozmente da janela do ônibus, que àquela altura também já havia se transformado em um tipo de material de propaganda.

Já confuso e não mais se lembrando do que de fato ele necessitaria comprar, adentra um sofisticado shopping center, um lindo paraíso colorido, adornado de belos cartazes com homens e mulheres de lindos sorrisos, de corpos atléticos e saudáveis. Todos esses anúncios o incentivando a comprar, a consumir, a usar aquilo que ele não tinha necessidade imediata.

Ele compra algumas peças de roupas, inclusive o jeans do anúncio no outdoor da rua de sua casa. Adquire um tênis, lançamento! Muito bonito e colorido! Mesmo que não seja uma necessidade urgente, o tênis era de última geração. O consumista chega até a refletir: “este par de tênis será realmente necessário? Pois já tenho uns 16 pares em casa. Não importa, vou levá-lo, ficou bonito em mim!”.

Caminhava pelos corredores do templo do consumo com o ego inflado, pois estava consumindo, estava gastando, estava fazendo a economia do seu país evoluir. Em sua cara de paisagem estava estampado um sorriso tênue, leve, um sorriso de quem estava dopado pela abstração.

Um fast food se apresenta a sua frente, vistoso, convidativo. Aquele homem, de repente sente fome. O que fazer? Estava ali a sua frente, lanche cheiroso com nome estrangeiro, mas tudo preparado com matérias-primas e mão de obra nacionais. A insistência comercial era grande. Então, comprou o lanche mais bonito dos cartazes que estampavam a lanchonete, e o consumiu sem perceber que era totalmente diferente, que na realidade, não tinha a beleza dos que enfeitavam os anúncios.

Já cansado e com o crepúsculo anunciando a chegada da noite, o ser do consumo volta para casa, carregando todos os seus “prêmios” adquiridos naquele dia. Chegando a sua residência, liga o rádio para distrair e lá estavam mais propagandas, mais comerciais. Pois o sistema não pode parar, as engrenagens devem continuar trabalhando.

O homem do consumo senta-se a frente de sua TV. Lá também estavam presentes as mesmas vozes que diziam: COMPRE, USE, CONSUMA! De repente, aparece um comercial diferente, com uma mensagem tocante, filosófica, mensagem que carregava até um requinte existencialista. Uma mensagem que incentivava a lutar, a progredir. Mas no final, a propaganda se mostra como as demais, pois ela termina dizendo: “traga o seu dinheiro para o Banco Capital, o banco que fará o seu dinheiro render, o banco que está ao seu lado”.

Então, o sono chega. O consumista inveterado desliga a TV. A noite está totalmente silenciosa. Ele apaga as luzes e ao deitar, antes que adormeça totalmente, se revela o seu verdadeiro ser. O homem do consumo se assusta com todo aquele silêncio, pois ali estava ele despido de todas as suas ilusões. Sente-se desamparado e desnorteado sem as vozes alienantes lhe ditando que desejos ter. Sente medo, não se reconhece. E por fim adormece, pois no dia seguinte toda a anestesia lhe será novamente aplicada, para que continue vivendo no mundo de ilusões, o mundo maravilhoso do consumismo fundamentalista e alienante. Um mundo onde o ter, é mais importante que a busca do propósito essencial do ser humano.

Vicente Mércio
Enviado por Vicente Mércio em 16/06/2017
Reeditado em 16/06/2017
Código do texto: T6029036
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