O achado

Depois de mais um dia em que bateu pernas quase à manhã inteira atrás de emprego, sem sucesso, ele distraidamente caminhava pela rua quando um objeto estranho ao ambiente chamou-lhe a atenção. Era uma bolsa, de couro, marrom, daquelas com alça que passa sobre o peito. Ela estava caída no chão. Ele andou até ela e a pegou em suas mãos, ao passo em que virou-se para todos os lados na tentativa sem sucesso de encontrar quem havia perdido tal objeto.

Ele caminhou até a sombra da fachada de um prédio e abriu a bolsa e eis que então uma grande surpresa se apossou do seu recôncavo de tranquilidade. Dentro da dita cuja havia muito dinheiro. Maços de notas de 50 e de 100 reais, todos devidamente presos com aquelas borrachinha que gente como ele usa mais como pulseira do que para seu devido propósito. Seu coração disparou de supetão e um aperto atingiu-lhe o peito. Suas mãos suaram. Ele mais uma vez olhou para os lados na busca por alguém que pudesse ser o dono de tal fortuna, mas ninguém parecia interessado nele. Poucas pessoas estavam na rua naquele momento e as que estavam em nenhuma circunstância aparente demonstravam qualquer sinal de que haviam perdido tanto dinheiro.

Ele fechou a sacola e a segurou contra o peito. Ficou alguns segundos abraçado à aquele objeto de couro marrom, como se a protegendo com seus braços contra um inimigo invisível. Em seu interior um misto de pânico, euforia e medo tomava conta de si. Baixou a sacola mais uma vez e a abriu novamente, pôs a mão esquerda dentro dela e tocou em todo aquele dinheiro. Sorriu e olhou para o céu como que se agradecendo a Deus. Depois fechou-a novamente, alçou-a sobre o corpo e começou a caminhar.

No caminho passou por uma revenda de carros usados. Ele parou e ficou olhando para a vitrine onde estavam expostos alguns veículos populares. Pensou consigo mesmo que poderia compra um daqueles carros e provavelmente lhe sobraria ainda muito dinheiro. Ele teve carro uma vez. Era um Uno, ano 97. Um bom carro, mas ai veio a crise e com ela a demissão e depois que ficou sem o seguro-desemprego, precisou vender o carro para pagar as contas.

Imaginou ele novamente com um veículo. Pensou no rosto que a esposa e os filhos fariam quando o vissem chegando em casa com um carro “novo”. Seria incrível. Poderia pegar todo mundo e sair para dar uma volta. Talvez jantar em um bom restaurante. Pensou nesses planos e seguiu caminhando.

Logo mais a frente passou diante de uma escola de inglês. Fazia algum tempo que a sua filha, quase adolescente, vinha falando em fazer um curso de inglês. Aquela era uma boa escola e por consequência acima de suas condições financeiras. Se quisesse agora poderia entrar e fazer a matricula da menina e pagar todo o curso à vista. Ele nem lembrava quando foi a ultima vez em que conseguiu pagar alguma coisa à vista. Queria de todo o coração fazer isso, mas não o fez e seguiu caminhando.

Adiante em seu caminho passou em frente de uma loja de roupas. Um vestido que cobria um manequim na vitrine chamou sua atenção. Aquele vestido ficaria maravilhosamente bem em sua esposa. Olhou o preço e pensou que em uma condição normal jamais poderia paga-lo, mas agora, com aquela sacola de dinheiro poderia compra-lo sem problemas. Sua esposa merecia um presente. Durante todos esses meses em que estava sem emprego, ela tinha se virado. Se batia para lá e para cá fazendo faxinas nas casas alheias para pagar as contas da casa. Ela merecia um presente e aquela peça de vestuário seria sem qualquer sombra de dúvida o presente ideal. Ele olhou para vitrine e por um minuto imaginou a sua esposa desfilando com aquele lindo vestido. Ela parecia um anjo. Ele sorriu e seguiu viagem.

Um supermercado então apareceu a sua frente. Era um daqueles grandes supermercados. Ele ficou olhando as pessoas entrando e saindo. Nas paredes na frente do estabelecimento várias cartazes anunciavam os valores dos produtos. Logo se imaginou comprando tudo. Há muito tempo, desde que perderá o emprego que não fazia um grande racho. Como será que seria a sensação de entrar em um supermercado e comprar tudo o que quisesse sem se preocupar com o preço? Deveria ser uma sensação muito boa. Com aquele dinheiro poderia fazer tudo isso.

Andou então mais um pouco e chegou a uma delegacia de polícia. Caminhou lentamente para a parte interna do prédio. Por um segundo olhou para alguns cartazes que estampavam fotos de meninos e meninas desaparecidas. Depois pediu pelo delegado. Logo foi levado a sala onde estava a autoridade policial, onde após os tramites recorrentes entregou o dinheiro, depois saiu, olhou para o céu, secou o suor da testa, e voltou a bater perna atrás de um trabalho.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 07/07/2017
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