SÓCRATES

Não, não é o filósofo grego. Também não é o ex-jogador do Corinthians.

Chegou àquele lar ainda criança. Há um mês veio a este mundo demente. O grunhido de cada um, quem sabe, não seja o temor de viver neste mundo insano. No útero da mãe, paz, tranquilidade, segurança.

Foi recebido com festa. Ele, com certeza, alegrará aquela casa, onde residem Armando e Josefina.

O casal preparou o quarto de dormir do novo hóspede, todo enfeitado de caras, semelhantes à dele. Olhinhos fechados pela claridade do sol, graças a uma claraboia no telhado.

No quarto mês já dá sinais de que será a diversão da casa. Rola sobre o tapete da sala. Dá cambalhotas. Aplausos, risadas. Todos o acariciam que, às vezes, dorme no colo de um dos filhos da casa.

Com um ano já demonstra inteligência incomum aos de sua espécie, pois já percebe determinadas atitudes das pessoas da casa. Fica ligado na rotina de cada filho, principalmente do mais novo, Rafael. Aguça mais o olhar para a rotina de Armando. .

Sócrates cresce fisicamente, o porte de atleta causa inveja aos de sua raça. Orelhas em pé, olfato aguçado. O faro, mais fino ainda.

Aos poucos foi demonstrando acuidade intelectual. Capta com rapidez os gestos do chefe da casa, dos filhos. Conhece as manias de cada um.

Armando costuma ler jornal todos os dias antes de ir para a empresa da qual é importante executivo

Diariamente o jornaleiro joga por cima do muro o jornal do dia. Armando apanha o matutino, senta-se no sofá e começa a leitura. E Sócrates ao lado, de olho no dono, de olho em cada gesto, principalmente quando o patrão passa a página do jornal. Sócrates faz o mesmo gesto com as patas. Olhos fixos em cada página. Ele também lê jornal.

Certo dia, o cão surpreende o dono. Assim que o jornaleiro joga o jornal, Sócrates de imediato entra na sala com o matutino preso aos dentes e o entrega a Armando, ainda sentado à mesa. Surpresa geral. Ao que Armando retruca. Não é à toa que o nome é Sócrates.

Sócrates está em plena adolescência. Nos passeios, paquera as cadelas de sua raça. É ele um misto de pastor alemão com policial. Sócrates, apesar da origem, é dócil, amigo. Sócrates é fiel escudeiro. Guarnece a todos com muita dedicação e carinho. Estranho algum entra naquela mansão sem ordem do dono. É capaz de dar a vida em defesa dos seus.

Aconteceu o dia da primeira vez. Foi com Shirley, uma cadela labrador. Neste dia, Sócrates entra em casa feliz, saltitante. Balança o rabo a indicar tamanha felicidade.

Um dia, o dono de Shirley bate à porta de Armando. Sócrates fica quieto, aguardando, quem sabe, uma bronca do dono de Shirley. Shirley está prenha, diz Jorge a Armando. Este olha para Sócrates. O cão parece entender, pois não para de balançar o rabo.

Os donos festejam a boa nova e selam um pacto. Se for parto duplo, um filhote para cada um; quádruplo, dois filhotes, mas se for triplo, dois ao dono de Sócrates.

Sócrates, o filósofo, o universo o eternizou pregando sua doutrina. Armando eternizou o cão, expondo na sala de estar um lindo quadro de seu adorado Sócrates.

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 13/07/2017
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