Sua versão mais velha

Naquele dia em que não conseguia mais dirigir e precisou encostar e parar na beira da estrada, você estava exalando desespero. Não enxergava saída. Decidiu, então, estender a parada e observar o pôr do Sol do mirante em frente. Mas, como se o destino zombasse de ti, havia um casal alegre ocupando o lugar com a melhor vista. Para você, sobrou um banco velho no meio de árvores já sem folhas no auge do outono. E você ficou lá, chorando tentando não gritar para não atrapalhar a felicidade daqueles dois admirando o espetáculo do fim do dia, já que ao menos alguém estava feliz por ali. No fundo, talvez estivesse exagerando um pouco, você sabe bem como costuma ser dramática. Como não consegue sentir pouco, sente sempre muito. Em dobro, triplo. Você é intensa e vive com tudo à flor da pele. Uma mísera fagulha faz toda uma explosão acontecer. E você se permite explodir. E chora. Soluça. Se pergunta porque. Fraqueja de medo de decepcionar aqueles com quem mais se importa, porque isso é o que mais te assombra. Seca as lágrimas. Levanta e, em silêncio, segue em frente. Segue porque não há outra opção. Segue porque nunca deixa de acreditar que há algo bom vindo, chegando perto. Segue porque, além de intensa, é muito curiosa, e quer descobrir o que está à diante te esperando. Naquele dia, você nem imaginava como tudo ia fluir. Como ia dar mais certo do que sequer teria planejado. Como você ia suspirar aliviada mal podendo acreditar no quanto ainda era sortuda. Não é fácil ser uma bomba armada sempre prestes a explodir (e não é nenhum pouco fácil quando explode), mas eu não voltaria no tempo pra te contar como tudo ia se acertar. É assim que você é, e prefiro que sinta muito ao invés de não sentir nada. -De sua versão três semanas mais velha.

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Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 15/08/2017
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