Phebo - O radiante!

Ele caminhava em meio a chuva de duas horas da tarde em Belém, com um passo malevolente e cadenciado que aprendera a alguns anos atrás nas ruas celebres do Rio de janeiro. Com sua camisa quadriculada e sua calça de tergal azul marinho ele vinha matutando umas soluções para os problemas diários como quem planeja o caminho até as estrelas mais distantes da galáxia.

Ao longe, dentro da casa, as meninas ouvem o rangido do portão se entreabrindo e correm, cada uma para sua cama e fingem adormecer para evitar qualquer problema para a mãe na cozinha que corria a esquentar o almoço e preparar a toalha para o banho do marido. Ah que ter cuidado para não esquecer o sabonete, única vaidade deste pai, homem, trabalhador e herói de sua família, o Phebo, pretinho reluzente e tão cheiroso que ainda outro dia ele comprara, ao passar em frente a fábrica e ser seduzido pelo perfume inebriante.

Ao adentrar a casa, tira os sapatos e ouve-se apenas o rangido do assoalho a cada passo saltitado para não molhar a casa e zangar a patroa que passara o dia a lidar com as meninas, a casa e a comida. Adentra ao banheiro, tira as roupas molhadas, joga-as pela porta entre aberta e entrega-se feliz a água fria do chuveiro e ao abraço perfumado daquele sabonete, como a entregar-se a um momento de luxúria plena. Lá fora o mundo emudecia e naquele momento, tudo se resumia a ele e ele, num encontro magnifico e renovador consigo mesmo. Nada importava, nem a fome, nem os calos da labuta, nem a incerteza do amanhã, nada, nada, só o êxtase da água escorrendo pelo corpo e o perfume exalando sem limites, extrapolando todas as medidas, classes, castas e qualquer extirpe que pudesse torna-lo inferior aos seus olhos e mãos de simples e honrado pedreiro.

Era rei em seu castelo, Deus em seu trono, como Apolo já fora um dia! E ele via-se em um castelo cuja cumeeira era tão alta quanto o próprio sol. Lá, ele vivia cercado de damas lindíssimas que entoavam belas canções e se insinuavam a ele dando lhe na boca as mais doces e deliciosas frutas, taças de licor de sapoti, seu preferido. A música se espalhava pelo ar, inebriando a todos na sala que davam risadas e cantarolavam sem parar. E como em um transe ele era feliz, ali naquele momento, entregue ao prazer de um banho perfumado, ele enfim, era feliz e ninguém podia tirar isso dele, pois sentia se energizado de uma luz tão intensa que enterneceria o próprio sol, diante de seu brilho interior.

Ao sair do banho, logo atrás de si, é possível ver, os raios de sol que iluminam até hoje as tardes de Belém!

Dedicado a meu pai Waldomiro Lopes da Silva