OBSEÇÃO

Carlos olhava com paixão para a mulher à sua frente. Ela era linda. Quando ele a olhava como agora dava a nítida impressão de estar hipnotizado. Mas, afinal, quem poderia culpá-lo? Ela era realmente uma bela mulher, como poucas de beleza tão natural nos nossos dias.

Os dois estavam em uma mesa redonda de madeira, daquelas pequenas que existem nos melhores bares. O ambiente era tipicamente carioca. Uma noite quente no bairro de Copacabana, a beira mar, luz baixa no bar e uma música ao vivo excelente, MPB talvez, Carlos não saberia dizer. Nesse momento ele acariciava quase sem perceber a curva mais fina da tulipa cheia de chope absurdamente gelado. Pensava na deusa que olhava, mas...

Pensava na esposa, nos dois filhos, no trabalho, na vida... Em quinze anos de casamento nunca havia traído ou tido vontade de trair a esposa. No entanto, agora estava ali, depois de quase um ano de idas e vindas, de tentativas de mandar aquela mulher embora da sua vida, mas de sucessivos retornos os quais ele mal sabia como haviam acontecido.

Carlos olhava com paixão a mulher a sua frente. Diante de mais uma tentativa muda de expulsá-la de sua mente e do seu coração. Se ela soubesse o quanto ele sofreu noites a fio imaginando como pudera ser tão fraco... se ela soubesse como ele chorava sozinho e amargurava-se com seus pensamentos loucos de fazer as coisas mais absurdas para escapar daquele infortúnio que era viver em dois relacionamentos e trair a confiança da pessoa que ele mais havia amado na vida... Talvez ela mesma fosse embora e o libertasse da culpa suicida que o abalava. Mas ele precisava ser forte por sua esposa, sua família, por ele mesmo. Precisava por um ponto final naquilo tudo.

A mulher soprou delicadamente a fumaça do seu cigarro, tocou-lhe a perna e em um segundo, o estava beijando profundamente. Algumas horas depois ela dormia mansamente na cama de hotel, Carlos sentado de costas para ela, mãos no rosto, mais uma vez deliciado e arrependido.

Vampira! Sem perceber ela o hipnotizara, sugara seu sangue! Alimentava-se de seu sofrimento e devia rir as suas costas como uma sádica que esperava o próximo gole. Quantos ela deveria fazer passar pelo que ele passava? Isso não podia continuar!

A mulher jazia deitada na cama. O sangue manchava o lençol que até ali fora impecavelmente branco. Ao seu lado Carlos dormia mansamente.

Nascia um psicopata.

continua...