Manhã sem café

Passei direto pela maquina de café e fui tomar um água, todos ao redor se espantaram, afinal de contas, eu bebo café como se fosse água, no entanto, não estava com muita vontade de tomar café mesmo, no fundo, eu não me sentia muito bem. Tive uma noite difícil.

Cheguei a minha sala por volta das vinte e duas horas, quase vinte e três; entrei e fechei a porta, olhei em volta e tudo parecia no lugar, se não parecesse também, pouco me importaria, eu nunca me lembro de como estava da ultima vez, apenas o meu bom e velho Dreher e o meu trinta e oito sob a mesa. Sentei-me na cadeira e me recostei como pude, queria um sofá, tipo daqueles divãs, mas, nunca penso em pesquisar preços e tudo mais.

As vinte três e trinta, o silencio toma conta do ambiente, os únicos sons que cortam de leve esse clima é barulho do meu copo e chocando contra a mesa a cada gole de conhaque, o maldito relógio de parede que odeio e que só não jogo ele fora, pois o barulho chato não me deixa dormir, a parte isso, ainda tem o barulho d’eu brincando com o revolver. Até os cachorros e gatos fecharam as matracas, logo eles que todas as noites me enchem o saco.

Havia somente eu no prédio, prédio antigo de dez andares e eu fico no ultimo andar, mesmo o prédio faz os sons às vezes, mas, nem mesmo ele quis dar o ar da graça essa noite e esses fantasmas filhos da puta, nunca aparecem quando se precisa. Logo o meu relógio de pulso toca, já é meia-noite. Volta e meia, um ou outro barulho de automóvel em alta velocidade, todo mundo está preocupado em voltar pra casa, nada mais do que isso.

Despejo mais uma dose de conhaque no copo e enquanto estou tampando a garrafa, escuto um barulho fraco, quase abafado, olho par o relógio de parede e é quase uma da manhã, barulho de coisa caindo, mas parece distante, não sei se o barulho é real, ou, se já estou ouvindo coisas, paro um pouco e escuto, O barulho se estende um pouco seguido de uma voz feminina pedindo por socorro, novamente bem abafada. Quais as chances de ser um casal tendo um leve desentendimento?

Há alguns edifícios residenciais pela redondeza, não me impressionaria esse som vir de um desses, quando se trata disso, eu procuro não me envolver, até mesmo porque, não faço parte da policia, é claro que eu tenho uma arma, mas, até aí isso não me torna herói de nada, dou um breve gole no conhaque e vou fechar as janelas, quanto menos eu souber disso é melhor. Recosto novamente na cadeira e posiciono a minha boina sobre os olhos, viro o copo e com pouco pego no sono.

Com pouco amanhece e que falta me faz um persiana, o sol vem direto na minha cara, abro os olhos e com uma cara de meio morto vou direto à janela, respirar um pouco de ar poluído para acordar bem, olho par baixo e mesmo do alto de dez andares, vejo algo que me chama a atenção. Era algum tipo de tecido bem vermelho, do tipo que não se vê jogado no chão assim... Desço pra ver... Desço pelo elevador que range enquanto se movimenta e saio no térreo, dou de cara para a rua, e viro a esquina do meu prédio e vejo o objeto vermelho no chão, uma blusinha rasgada.

Não me lembro dela aqui da ultima vez, mesmo com a minha memória ruim, eu me lembraria dela, entro mais no beco entre os prédios, um pouco de sangue no chão, vou até o fim do beco e encostada na parede, o corpo de uma mulher, pernas ensanguentadas, calcinha quase nos joelhos e o rosto com marcas roxas, chego mais perto e vejo o corte no pescoço. Num choque, percebo que a conheço, é uma prostituta d rua do lado, era muito gente boa, talvez, ela encontrou o desgraçado, pra quem o “não” dela, foi fatal... Uma vez, ela cobrou menos de mim, pois, ela já passou a noite na minha sala, se escondendo de um cara... Lembrei-me de ontem à noite... Volto para o prédio, entro no elevador, pego um copo d’agua e volto pra minha sala, preciso dormir mais.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 22/09/2017
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T6122200
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